Há passos de treinamento disponíveis a todos. Nada está oculto, e essa é uma característica do Zen: o conhecimento é auto-secreto, ou seja, ele está disponível, você pode ler à vontade, não está nada oculto. Não há nenhum conhecimento secreto ou colocado em templos, em rituais vedados aos não iniciados ou qualquer coisa assim, que é a tradição do Ocidente, das ordens que transmitem conhecimento de forma oculta somente aos admitidos, aos iniciados.
No Zen, portanto, tudo está tradicionalmente disponível. As orientações serão dadas, mas você tem que vir e sentar-se naquela almofada, e tem que ser desconfortável. Porque a seleção, a iniciação do Zen é exatamente isso. Ultrapassados esses níveis é que as portas do conhecimento podem se abrir. Mas o conhecimento não é uma condecoração colocada no seu peito; o rakusu (pequeno Manto de Buda) não significa que você recebeu um diploma ou qualquer coisa assim. Você tem que conquistar, e isso é realmente a característica da própria transmissão. É o discípulo que tem que conquistar, e ao mestre cabe apenas um reconhecimento. Por isso que a expressão “deu a transmissão” está errada. A expressão correta é: “ele reconheceu a luz”. E quando esse reconhecimento acontece, o mestre pode dizer: “eu vou embora e você carrega a lâmpada depois de mim”. Há, inclusive, um livro cujo nome é Crônicas da Transmissão da Luz, ou da Lâmpada. Esse é o significado de Denkoroku.
N.E.: transcrição de palestra realizada por Monge Genshô Oshô em Florianópolis, novembro/2016.