Pessoalmente sou vegetariano, porque meu pai era vegetariano, e então fui criado dessa
forma, de maneira que faz 70 anos que não como carne. Só comi em algumas ocasiões
em que fui obrigado a fazê-lo para não ofender outras pessoas, mas o budismo não tem
uma regra a este respeito. Há muitos budistas vegetarianos, porque não querem
participar da morte e do sofrimento dos animais, o que é uma visão bonita. Em geral nos
monastérios existe uma cozinha vegana bem estabelecida já há aproximadamente 1.200
anos. Eventualmente pode-se servir carne, dependendo do monastério, porque as
pessoas trazem doações de fora e a instrução é de que as doações devem ser aceitas sem
restrições, você não pode jogar fora.
Há uma história de um monge que estava mendigando e um homem com lepra o serviu,
mas, como o polegar dele estava apodrecendo, acabou caindo dentro da tigela. O monge
comeu, sem pestanejar, sem dizer nada. Essa é a imagem de uma grande mente, porque
para ele era mais importante não ofender o doador. Então as perspectivas no budismo
são um pouco diferentes.
A tradição da cozinha vegana, Shojin Ryori, é muito bonita, a comida também é bonita,
mas não existe uma regra que diga “um zen budista deve comer assim”. Essa atitude de
não comer carne é decorrência de pessoas que têm um sentimento compassivo com
relação aos animais, que pensam: “se todos fizessem assim, não haveria matadouros”, se
alguém acha que matadouro é uma coisa bonita ou boa, vá lá e fique um dia assistindo.
Vão entender o que estou dizendo. Mas isso não é uma pregação budista, os praticantes
comem o que quiserem, naturalmente.