Aluno – No vocábulo Zen, existe a palavra Chan, que significa concentração. Existe algum foco especial no budismo a respeito da meditação/concentração, ou é apenas uma coincidência?
Monge Gensho – Não, não é coincidência. O Zen budismo se vê como budismo contemplativo, ele enfatiza, e a diferença entre os budismos, é essa a ênfase. A escola Theravada enfatiza o estudo dos sutras, embora meu mestre fale constantemente para eu ler os sutras do Cannon Pali. O budismo Zen enfatiza a prática da meditação, sempre digo que essa prática no Zen deve ser feita em quantidades industriais, mas a mesma coisa acontece na prática do Theravada, pois existe grande similaridade nessa ênfase. Embora se diga frequentemente no budismo, que as escrituras e os textos são o dedo que aponta para a lua, mas que não são a lua, são mapas para que se possa seguir um caminho. Não são o caminho. São indicações, você tem que trilhar o caminho por seus próprios pés para chegar lá. Não basta ler ou ouvir ensinamentos. Costuma-se dizer no Zen que enquanto nele se falar, ele não estará presente. Quando estávamos calados experimentando a prática da meditação, o Zen estava presente. Agora é só conversa a respeito. A palavra chan vem do sânscrito dhyanna que significa meditação, então, o budismo Zen significa o budismo que enfatiza a prática da meditação. Na verdade, no Zen, embora diga-se frequentemente, como acabei de dizer, que os ensinamentos são apenas o mapa, dificilmente você encontrará tantos textos quanto existem sobre o Zen, e os professores estão sempre escrevendo. Aqui, por exemplo, tem um gravador para documentar a palestra, porque Moryama Roshi aconselhou: “grave as palestras”. Por quê? Porque acabarão virando texto. Na realidade, existe estudo no Zen e Dogen Zen Ji diz que o estudo dos sutras é a base do caminho. Não se chega à outra margem sem saber, e mesmo que Hui Neng seja declarado um patriarca analfabeto, leia seu o texto e você verá quantas citações nele há; ele parece um erudito. Mesmo que ele guardasse de memória por não saber ler, ele ouvia, guardava, sabia citar e raciocinar. Sem esse instrumento não vamos longe. A ênfase do Zen é mais do tipo, “não me diga as palavras de Buda, me diga as suas”. É a verdade que você está praticando, e essa é a verdade do Zen, e não as indicações ou os textos. Como você está vivendo, como está sua mente agora, essa é a verdade. Mas existem três portas de acesso: emoção, estudo e ação. São três portas de acesso para o caminho. As pessoas são diferentes, existem pessoas que naturalmente estão preparadas para o caminho intelectual, outras para o caminho da emoção e outras para o caminho da ação. Cada uma deve praticar com a escola mais adequada para o seu coração, para o seu sentimento, devendo praticar naquele lugar com o qual ela sinta que tem conexão. Por isso, é tão importante escolher o seu mestre e sua escola.