O Zen e a Vida comum | Monge Genshô

Pergunta: Pratico zazen há mais ou menos um ano, mais recentemente comecei a ficar mais seletivo em relação a conversas e amizades, não fico reclamando nem gosto de ouvir muitas reclamações, porém sou tachado de chato ou distante. Estou levando minha prática para uma direção errada?

Monge Genshō: Tem uma coisa muito interessante na história dos dez passos do boi. Quando o aluno começa a prática ele tem as primeiras realizações, depois vai progredindo e caminhando os demais passos, até que no oitavo passo já tem uma grande iluminação. Já no décimo passo temos a representação de um homem vestido de maneira simples, com uma camisa aberta, garrafa de vinho na mão e assim ele encontra homens vulgares e com eles ele bebe e também fala vulgaridades, mas aos seus passos as árvores secas florescem.

Essa queixa que você acabou de narrar tem muito sentido, porque começamos a andar num novo mundo e as pessoas do mundo antigo não conseguem compreender. Isso acontece com todas as experiências humanas. Os homens que foram à guerra, por exemplo, não conseguem conversar com as pessoas que não estavam lá, então se reúnem com as pessoas que dividiram aquela experiência e com eles conseguem falar, porque assim podem se entender. Quem passou por grandes tragédias se sente assim e qualquer experiência realmente profunda acaba provocando essa sensação de distanciamento.

Então há duas atitudes: você deve procurar as pessoas que estão realizando o mesmo trajeto para conversar com elas e com as pessoas que não estão aja como aquele homem que já se iluminou e volte a caminhar entre os homens. Não seja diferente. Se você quer conviver com eles então aceite o que eles dizem.

Quando chega o Natal, como parte da minha família é cristã, eles se dão as mãos e rezam. Então, dou as mãos junto e rezo o pai nosso junto. Essa é a atitude de um zen budista.

Resposta proferida por Meihô Genshô Sensei, Daissen-Virtual, outubro de 2021.