(…) Pergunta: No retiro o senhor falou para nós desfazermos nossos ganchos e queria saber se desfazendo esses ganchos nós chegamos a vacuidade?
Monge Genshō: Não, os ganchos foi uma imagem que dei para entendermos os apegos. Porque nos apegamos às coisas criamos ganchos que nos ligam a elas e vamos pendurando coisas ao que chamamos de nosso eu: posses, amores, títulos, etc. Tudo isso é fonte de sofrimento. Esse conceito é só sobre isso, só sobre o sofrimento e de onde ele surge, ele ainda não chegou na questão da vacuidade.
Pergunta: Outra pergunta sobre os ganchos. Como desfazê-los e não passar a ideia de que você está ficando frio? Insensível?
Monge Genshō: Na verdade a prática não leva a tornar as pessoas frias e insensíveis, o que eu tenho visto é o contrário, mas claro que no início pode ser que comecem a considerar bobagem as atitudes que tinham antes e isso pode ser interpretado como frieza, é como reconhecer que é absurdo ficar abalado porque deixou quebrar uma xícara. O verdadeiro praticante se quebra algo simplesmente recolhe os cacos, joga no lixo e não chora e se perturba, porque sabe que as coisas são impermanentes. Mas isso não é insensibilidade, porque o verdadeiro praticante desenvolve uma sensibilidade sobre os sentimentos e emoções dos outros de forma mais aguda. O que eu vejo entre os mestres e praticantes é uma capacidade emocional e de empatia mais forte.
Tem uma história Zen de um mestre que entra com seus discípulos em uma aldeia onde está acontecendo um funeral e ao passar em frente ele vê as pessoas chorando e entra no recinto. Lá dentro ele começa a chorar junto com as outras pessoas e sai com os olhos inchados de tanto chorar e os discípulos que ficaram na rua aguardando sem entender perguntam: “mestre, mas o senhor conhecia este homem que morreu?”, e ele diz: “não, não conhecia”. E questionam: “mas por que o senhor entrou e chorou?” e o mestre: “estavam tão tristes e eu me entristeci com eles”. (…)
Trecho da palestra proferida por Meihô Genshô Sensei, Goiânia, 20/02/2020.