“No Sutra do Coração da Sabedoria, que é o Sutra da essência dos Prajna Paramita Sutras, há a declaração de que o vazio é forma e a forma é vazio. Teríamos que perguntar o que é o vazio para nós budistas e por que tão frequentemente a pergunta sobre uma divindade aparece. O vazio não pode ser confundido com uma entidade, com uma personalidade, com um plano, com um propósito, com uma intenção. O vazio simplesmente é.
Algumas vezes na literatura religiosa de outras tradições esta realidade transparece. Quando Moisés pergunta a deus ‘quem és?’ ouve a resposta ‘eu sou aquele que é’. Para nós budistas o vazio só se manifesta como forma e se você retira todas as manifestações é como se retirasse também o vazio.
Teríamos que perguntar se em algum momento o vazio não se manifesta como forma. Se assim fosse seria como se entendêssemos que o universo surge do nada, mas ao que parece para o budismo o universo é cíclico. Surge, há um fim das eras, depois há um começo de eras, numa contínua contração e expansão. Em tempos inimagináveis.
Outra maneira de compreender é olhar para o espaço e o tempo. Se não houver nada, nenhuma matéria, você não pode dizer que há espaço, porque seja onde estiver você só pode dizer o que há em cima, embaixo, ou ao lado se tiver ponto de referência. Mas se não há ponto de referência também não existe esquerda, direita, em cima, embaixo. Assim, o vazio significa que para existir algo há que haver potência. O universo não sai do nada e portanto não podemos admitir a existência de um nada. Também não podemos admitir a existência de uma eternidade no sentido de sempre uma direção única. Se falamos em eras, contração e expansão, estamos falando em ciclos nos quais nunca há realmente um nada.
Trecho do Teisho Matinal proferida por Meihô Genshô Sensei, julho a agosto/2020.