Todo vazio só se manifesta como forma. O vazio não é uma coisa independente, ou que existe por si mesmo. Todas as formas são vazias de um “eu” e é isso que o vazio é. Nós somos “o vazio”. Você ouve dizer que somos manifestações “do vazio”, mas isso faria pensar que o vazio é alguma coisa, e aí então nós damos uma realidade ao vazio que ele não tem.
A única realidade que o vazio tem é que ele se manifesta como forma. No mar, podemos dizer que a água é o vazio. Você vê ondas, superfície, é isso que você vê. Se você tirar toda a superfície do mar, embaixo tem água, que se manifesta de novo como ondas. É sempre assim. Você vai sempre ver a manifestação do vazio.
Quando você tira toda a forma, tira todo o vazio. O vazio é como se fosse uma qualidade de todas as coisas. Não teria um “eu”. O problema é que nós também não temos um “eu”. Nós e todas as coisas somos uma coisa só, e sendo uma coisa só somos apenas manifestações diferentes do mesmo. E o mesmo que se manifesta de formas diferentes. Nós não somos diferentes. Nós somos o próprio vazio. Não enxergamos a nossa verdadeira natureza, só enxergamos nossa natureza temporária, que é a dimensão histórica, que é uma coisa que começa e tem um fim. Nós nascemos, morremos, isso é a dimensão histórica. Mas existe uma dimensão suprema que está além da dimensão histórica, e essa não se manifesta historicamente. Ela tanto é uma em tempo quanto é uma como manifestação. Todas as manifestações são a mesma dimensão.
As ondas nascem e morrem na superfície do mar. O mar não nasce e morre, ele está lá. Todo o tempo. Então a dimensão suprema é assim. A dimensão histórica é que são as manifestações fenomênicas que nascem e morrem.
Vazio não é mais do que forma, forma é exatamente vazio e vazio é exatamente forma.
E aí o Sutra começa a listar: “sensação, conceituação, diferenciação, conhecimento, assim também o são.” Também são vazios.
“Ó Sharishi, todos os fenômenos são vazio forma.” Não nascidos. Os fenômenos, são não nascidos, porque eles são o vazio. Eles parecem que nascem e morrem mas isso é como se fosse um sonho, uma manifestação, mas não é a essência. Todos os fenômenos são não nascidos, não mortos e não puros e impuros, não perdidos e não encontrados.
Assim é tudo dentro do vazio. Tudo dentro do vazio é sem: “forma, sem sensação, sem conceituação, diferenciação, conhecimento, sem olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo, mente, sem cor, som, cheiro, sabor, tato, fenômeno.”
Tudo dentro do vazio é assim, “sem nada”.