Origamis na festa do Hanamatsuri, Florianópolis 2011.
P: Sempre encarei o vazio budista como uma “condição” (na falta de uma palavra melhor) onde não havia eu individual, apenas uma “coisa/eu” (na falta de palavra melhor) universal abarcando tudo (até o próprio universo). Eu não consigo explicar direito, mas, é como se fosse um quadro branco onde qualquer coisa pode ser desenhada. Não há desenho algum, e qualquer desenho não possui existência própria, podendo ser apagado e dar lugar a um novo desenho. Mas o quadro está lá. Então existe sim alguma coisa. Um quadro branco de infinitas possibilidades aleatórias. E essa tela branca seria um tipo de “eu infinito” onde vários pequenos “eu/desenhos” podem aparecer e desaparecer. E esses pequenos desenhos podem pensar “eu existo, eu estou aqui” mas na verdade ele não é nada além de um risco no quadro branco, que por sua vez é tudo. O desenho não é desenho… é quadro branco… mesmo sem ele se dar conta.
Eu pensava que iluminar-se seria “perceber” que “você” não é um ou vários desenhos nessa tela branca onde se manifesta o universo, mas a própria tela branca. Um tipo de “consciência” (não consigo achar outra palavra) una e infinita. Perceber que você é cada um e todos os desenhos ao mesmo tempo, e algo além deles. E um buddha seria a própria tela branca consciente disso.
Mas, li há alguns dias um livro do atual Dalai Lama. Nele o Dalai disse que o vazio era simplesmente a ausência de existência inerente. Confesso que essa idéia foi perturbadora, porque restringiu minha idéia de vazio ao simples estado de falta de existência. Como se o vazio se transformasse apenas em uma característica das imagens manifestas.
O Sr. poderia me ajudar a compreender melhor essa questão?
R: Como disse o Dalai Lama e esta é a perspectiva também do zen, o vazio não pode ser reificado, transformado em algo, ele é apenas uma qualidade dos fenômenos , de serem desprovidos de um eu inerente. Embora sua visão fosse próxima, e a analogia interessante, ela reificava o vazio.
A idéia melhor está expressa no Sutra do Coração da Sabedoria: o vazio é forma, a forma é vazio, ou seja o vazio se manifesta como formas, retiradas as formas vpcê retira o vazio, na sua analogia seria como se não houvesse quadro, e os riscos manifestassem, fizessem surgir, o próprio quadro.
Genshô