Comentários sobre o Caso II do Shoyoroku, (texto clássico) em que narra-se o encontro do imperador Wu, da China, conhecido pelo seu interesse pelo budismo, e o Mestre Bodhidharma que trouxe o Zen da Índia, cerca do ano 600 DC.
“Liang era um reino do sul da China, quando Bodhidharma foi pra lá foi alertado de que no sul prestavam muita atenção a mérito criado. Em várias versões desse caso, a primeira pergunta do imperador Wu para Bodhidharma é a respeito dos méritos que ele teria acumulado nos céus por haver construído templos e mosteiros para o budismo, e a primeira resposta de Bodhidharma teria sido:
– Mérito nenhum, majestade.
A seguir o imperador perguntou:
– Então, qual a grande verdade da sagrada doutrina? e Bodhidharma respondeu:
– Vazio. Vastidão ilimitada, e não há nada que possa ser chamado de sagrado.
Neste momento Bodhidharma está descrevendo uma profunda verdade: Vazio, ou seja, todas as coisas são interconectadas, todas as coisas estão apoidas umas nas outras e nenhuma delas tem um eu intrínseco, um eu inerente. Elas não funcionam por si mesmas, não tem uma substância real por si, como nós mesmos não temos uma substância real independente, um eu intrínseco, temos apenas um eu criado e forjado pelos nossos pensamentos, preferências, conexões diversas das nossas próprias vidas, funcionamento do nosso corpo.
A verdade de perceber que não há um eu intríseco, que pertencemos a um universo todo interdependente, mas não somos algo separado, que existe por si mesmo, é dita como aterradora em alguns textos budistas. E diz-se que apenas um bodisatva no 8º nível de iluminação poderia olhar de frente pra esta realidade, sem se sentir arrasado, de tal maneira nós somos profundamente agarrados a nossos próprios egos e eus.
Tão sensíveis somos, tão a flor da pele está nosso ego, que é fácil com uma única palavra ferir, perturbar, causar desconforto, causar atrito e quebra de harmonia.
(continua)