O budismo Zen surge, tradicionalmente, de um sermão de Buda em que ele levanta uma flor e a mostra para a platéia sem nada dizer. Ao fazer isso, um dos assistentes, Mahakashyapa, que viria a ser o sucessor de Buda após sua morte, sorri. Buda diz – Mahakashyapa foi o único que entendeu. Essa tradição de origem do Zen fala sobre o fato de que o Zen verdadeiro, o Dharma verdadeiro, é transmitido além das palavras. As palavras não fazem jus ao Dharma, não fazem jus à verdade dharmica. O conhecimento e a experiência são tão profundos, tão distintos, que não podem ser descritos com palavras.
Por isso, sempre que possível, uma palestra sobre o Zen deve ser iniciada com a experiência da meditação, sem a qual não podemos saber sobre o que falamos. É necessário calar nossa mente, nossa boca, imobilizar nosso corpo, para que haja espaço para sentirmos algo mais profundo que permeia tudo. As pobres palavras não fazem sentido porque não permeiam tudo. Também não há nenhum “algo” aqui. Isso lembra a teologia apofática, presente no cristianismo, em que se declara que não se pode falar sobre a divindade porque quando se fala sobre Deus estamos lhe dando atributos, e ao dar atributos o estamos diminuindo. O budismo em si nem fala sobre uma entidade divina ou sobre um Deus criador.