O Terceiro Elo – Parte 1 | Monge Genshō

O Terceiro Elo – Parte 1 | Monge Genshō

Hoje, continuaremos com as considerações sobre a Originação Dependente, passando então ao Terceiro Passo.

No Primeiro Elo, vimos Avidyā, a ignorância. Examinamos aqueles fenômenos como as figuras reversíveis que fazem com que vejamos uma coisa ou outra, dependendo da posição da nossa mente. Damo-nos conta das qualidades da nossa mente que fazem com que vejamos diferenças onde elas não existem. Essas são criações da nossa mente, que fundamentam os problemas da nossa compreensão do Universo e os problemas diários, como vemos com o racismo ou com a nossa visão sobre diferentes pessoas a partir de coisas que existem apenas dentro da nossa mente e que não são a realidade última.

Depois, examinamos o Segundo Elo, Saṃskāra, que são as marcas que fazemos em nós mesmos e que impregnam o nosso karma, constituindo, na realidade, o nosso karma. Essas marcas fazem com que andemos numa direção ou outra. Vimos o exemplo, no caso do Saṃskāra, das pequenas correntes de água que cavam cânions e enormes marcas onde antes não existia nada.

Hoje, vamos falar sobre Vijñāna, o Terceiro Elo da Originação Dependente. Vijñāna significa consciência. E o que constitui a consciência em si? Fazemos contato com os nossos sentidos e, daí, temos percepções. Quando temos uma percepção, ela surge em nossa mente a partir do contato dos nossos sentidos. Esse contato dos nossos sentidos é interpretado na nossa mente como uma determinada coisa.

Pode ser o simples tocar em um objeto. Ao tocá-lo e senti-lo, apalpamos, recebemos uma informação da nossa pele, ela percorre nossos nervos até o nosso cérebro, e interpretamos esse objeto. Mas como interpretamos esse objeto? Interpretamos a partir das nossas experiências anteriores e informações prévias.

Por isso, é muito importante percebermos o que é consciência, pois estamos conscientes da nossa própria existência por uma sucessão de momentos de consciência. Temos um contato, surge algo em nossa mente, um registro daquela informação, e nós o comparamos com o que aconteceu antes.

O que faz com que sejamos capazes de interpretar um contato é a nossa memória. O liame que une os momentos de consciência é a memória. Aquilo que tomamos como consciência do nosso eu não é mais do que a sucessão de momentos de consciência.

Por exemplo, tenho um momento de consciência, depois outro. Imagine um momento de consciência isolado: não sei nada, não conheço o mundo. Acordei agora, abro os olhos e vejo o mundo. Tenho um segundo de consciência, mas não sei o que é, onde estou, que lugar é esse, nem quem sou eu. Não sei nada. Mesmo que se suceda outro momento de consciência, se ele for isolado, a informação é “indecodificável” por nós. Não sabemos o que é, onde estamos, ou quem somos.

Para saber tudo isso, precisamos ligar um momento de consciência a outro, e o que faz com que acreditemos na nossa própria existência é a memória. É a memória que sustenta a noção de um eu. Porque temos memória, acreditamos na nossa própria existência e identidade. A memória sustenta. Esses momentos de consciência lhes dão uma coerência que permite que nos interpretemos como sendo isto ou aquilo.

Se retirarmos a memória, a noção de “eu” desaparece. Este é o problema fundamental. As pessoas perguntam sobre a noção de eu e a morte, ou se eu sobrevivo. Essa pergunta denota uma grande incompreensão de como funciona a nossa mente.

[CONTINUA]


Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual em maio de 2024.