O Sexto Elo - Parte Final | Monge Genshō

O Sexto Elo - Parte Final | Monge Genshō

[CONTINUAÇÃO]

E, então, uma coisa magnífica do Budismo é que nunca afirmou ter uma descrição da realidade tal como ela é. O Budismo sempre apresenta dúvida: não, não é bem assim; não percebemos tudo; não sabemos tudo; não temos capacidade para isso. Todos os nossos métodos de verificação e nossos sentidos são duvidáveis. E a parte importante desta palestra sobre o contato, sobre o Sparśa, é que os cientistas são crentes, acreditam em suas descrições. Felizmente estão dispostos a revisá-las, o que não acontece nas crenças religiosas em geral.

No caso do Budismo, não temos uma crença para descrever e nos agarrar que, de repente, coloque em dúvida tudo o que pensamos antes. Na verdade, os budistas são os verdadeiros céticos.

Pergunta: Nesta manifestação, se atingirmos algum tipo de iluminação, podemos ter vislumbres dessas outras realidades sem forma?

Genshō Sensei: A iluminação, as experiências meditativas, produzem compreensões. Mas se percebemos coisas que não estão aqui agora, sempre prefiro citar a frase de Kōdō Sawaki: “Se qualquer realidade ou qualquer ser se manifesta neste mundo, neste âmbito, então está tão perdido quanto nós”.

De forma que não adianta fazer contato com qualquer coisa que pareça sobrenatural ou diferente daquilo que nós estamos vivenciando. Porque qualquer ser que se manifeste aqui está tão perdido quanto nós. Porque não se manifestaria aqui se não estivesse assim, se sua percepção não fosse tão obscura. Seria completamente sem sentido para ele.

Assim como não ocorre a nenhum ser humano, nenhum de nós, ir ensinar as formigas no jardim. Portanto, isso é completamente desconsiderado, não importa para nós. Não se trata de negar possibilidades de percepções quaisquer, mas sim de que elas são inúteis em princípio, assim como é inútil um homem falando para as formigas.

Pergunta: Em relação à palestra, diante da multiplicidade das coisas e conflitos de decisões, quando temos que escolher entre uma coisa ou outra, a clareza advinda do zazen pode nos ajudar a guiar na decisão? Como lidar com essas dúvidas?

Genshō Sensei: Evidentemente o zazen nos ajuda a tirar da nossa mente uma quantidade de entulho enorme de sentimentos que perturbam nossas decisões. Eu me lembro de uma frase muito interessante de um filme do Poderoso Chefão em que o ator Al Pacino diz para um filho “Não odeie seu inimigo. Isso perturba sua clareza, sua decisão”. A todo momento em que nós temos emoções, nossos sentimentos perturbam nossas escolhas e nos tiram clareza.

Portanto, sim, o zazen ajuda a ter clareza por nos tornar mais distantes da tempestade das emoções. Então o zazen dá uma tranquilidade maior e permite que você tenha mais limpidez quando toma uma decisão qualquer.

Agora, a vida é feita de encruzilhadas e decisões muitas vezes difíceis. Se nós tivermos um pouco de tranquilidade, normalmente o caminho se mostra na nossa frente. Como na frase, hoje já famosa porque usamos muito, que meu mestre Saikawa Rōshi me disse: “Por que eu lhe daria instruções sobre o que fazer? A vida se mostra a cada passo”. Eu tenho usado muitas vezes esse ensinamento com meus alunos. Não fique tão ansioso. A vida mesmo vai se mostrar a cada passo e aí você sabe o que fazer, se tiver tranquilidade e não estiver perturbado por emoções. As emoções não são boas conselheiras. Essa é que é a verdade. Não siga seu coração, siga, na realidade, sua racionalidade. Uma decisão bem pensada e bem racional é melhor do que uma decisão tomada ao sabor das emoções.


Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual em dia 2 de março de 2024.