O Sétimo Elo - Parte 1 | Monge Genshō

O Sétimo Elo - Parte 1 | Monge Genshō

Prosseguimos hoje estudando os Elos da Originação Dependente, e hoje então nós temos o Elo Vedanā. Vedanā significa escolhas. Lembram-se que nós começamos com o Primeiro Elo, Avidyā, que significa “ignorância”. Depois de Avidyā, estudamos Elos que são caracterizados pelo fato de adquirirmos forma por causa da nossa ignorância, nos manifestarmos neste mundo, que é o mundo da forma, o mundo em que estamos agora. Rūpa, em Sânscrito, significa “forma”. Fazemos contato com este mundo através dos nossos sentidos e assim vemos um fato muito importante: a realidade é uma interpretação. Aquilo que nós vemos como realidade é uma interpretação nossa.

A partir desse contato com essa realidade, nós fazemos escolhas. Por causa da ignorância de Avidyā, não ver, desenvolvemos todas as coisas anteriores dos Elos da Originação Dependente: os desejos, as percepções vindas das formas. Nós escolhemos então o que nos agrada. Surge esse gosto/não gosto. É muito interessante que a nossa própria manifestação neste momento, neste mundo de manifestação, é orientada exatamente pelas nossas escolhas. Então, não é inocente o fato de estarmos caindo neste mundo, neste país e junto a determinadas coisas e junto a uma determinada família. É frequente que as pessoas sintam que não pertencem a uma determinada família, por exemplo, e dizem “Eu sou diferente da minha família”, mas, em última análise, não é bem isso. Nós nos direcionamos para um determinado tipo de manifestação, orientados pelas nossas marcas cármicas.

Eu já observei fatos muito interessantes, como, por exemplo, uma moça que tem um pai alcoólatra e esse pai causa muitos problemas na sua família. Ele é violento, chega bêbado em casa ou qualquer coisa assim, e ela detesta essa situação. Mais tarde, ela se apaixona por alguém e se casa, e este alguém é alcoólatra. Já observei fatos como esse acontecendo várias vezes. Por quê? Na verdade, a primeira escolha já era neste sentido, já havia uma marca cármica neste sentido e depois ela simplesmente prossegue porque a escolha seguinte é a mesma, apesar de estar claro racionalmente para a pessoa que ela não gostava daquela situação anterior. No entanto, ela repete. E se nós prestarmos atenção em nossas vidas, veremos quantas vezes as nossas escolhas se repetem. São os mesmos erros, o mesmo tipo de escolha, o mesmo tipo de pessoa, o mesmo tipo de trabalho. Dizemos racionalmente que não queremos aquilo, mas, de novo, retornamos àquela situação.

Isso pode ser bastante extremo porque já assisti a entrevistas, há pouco tempo, de homens que foram jogados na Guerra da Ucrânia e estão lá vivendo uma situação muito difícil, lutando em trincheiras, sofrendo a perspectiva de uma morte iminente, matando, provocando mortes. Numa dessas entrevistas, o repórter pergunta ao homem o que ele vai fazer quando sair daquele lugar e o soldado responde “Vou procurar outra guerra, vou me alistar para outra guerra”. Existe um número considerável de mercenários que escolhem ir para a guerra. Eles estiveram, por exemplo, numa guerra qualquer e agora se alistam para serem soldados numa outra guerra em um outro lugar que intimamente não tinha nada a ver com eles. Não estão defendendo sua terra nem nada assim como soldado convocado, mas, como diz a gíria militar, ele foi envenenado por aquela adrenalina, por aquela situação, e não sabe mais viver de uma forma diferente daquela.

Um dos maiores atiradores conhecidos, um sniper na Guerra do Iraque, se voluntariou várias vezes para retornar. Há filmes sobre ele, há livros sobre ele, foi um dos mais precisos e mais mortais homens neste cargo de sniper, de atirador de elite. Mas nós teríamos que nos perguntar: se era tão terrível, por que se alista de novo? Da mesma maneira, quando olhamos para os nossos relacionamentos, devemos perguntar “Por que eu me envolvi num relacionamento de tal tipo? E por que, depois de sair daquele relacionamento de tal tipo, eu procurei um outro relacionamento muito semelhante? Por que fazemos isso?”. A resposta é: por causa de nossas marcas cármicas! Temos marcas cármicas que nos direcionam para determinado tipo de atitude, determinado tipo de envolvimento. Como, por exemplo, um jogador retorna para a mesa de jogo e joga de novo. Quantos já perderam suas fortunas, o dinheiro de sua família e tudo mais numa mesa de jogo porque não podem escapar da tentação de tentar de novo. Isto é marca cármica.

[CONTINUA]

Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual no primeiro semestre de 2024.