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Pergunta: Bom dia! Como entender a questão do gênero LGBTI+ no Budismo?
Genshō Sensei: As questões de gênero são geradas por marcas cármicas. Você faz uma pequena escolha uma vez, tem uma inclinação uma vez, ela se torna cada vez mais forte à medida que é repetida. Quando você se manifesta novamente em uma nova vida, aquela marca cármica está presente. Mas, não podemos culpar as pessoas, dizendo “Ah! Você tem uma determinada inclinação que na sociedade não é comum!”. Essa marca as arrastou, marcou aquilo. Pode ser relativamente inocente, como uma escolha de orientação sexual, mas existem desvios altamente complicados, como é o caso do sádico, por exemplo, ou uma pessoa com inclinação para ser um canibal. É um tipo de perversão que existe, aparece e até tem na Deep Web grupos defendendo suas opções.
Qualquer opção que cause sofrimento aos outros é negativa e deve ser combatida. Aquelas que não causam sofrimento a outras pessoas e são simplesmente orientações, nós devemos entender que são originadas por marcas cármicas, assim como a orientação heterossexual também é originada por uma marca. Todas as opções, e vamos nos concentrar apenas nas opções de mera escolha e inclinação, mas que não incluem, como no caso do sadismo, causar mal a outras pessoas ou da pedofilia e outras inclinações assim. Se não causam necessariamente sofrimento a outras pessoas, nós simplesmente as ignoramos, não as comentamos, porque são marcas cármicas que vieram do passado e de alguma maneira foram se consolidando.
Há alguma coisa inelutável que diz que sempre será assim por todas as manifestações cármicas no futuro? Não necessariamente, porque não há nada no ser humano que não seja mudança. As mudanças sempre são possíveis para qualquer um dos lados. A opção dentro da comunidade budista sempre foi, desde os tempos de Buddha, ignorar, não comentar, não se referir a respeito, porque, simplesmente, se não causa conflito ou sofrimento a outras pessoas, pode ser simplesmente descartada, não comentado. Essa é a opção que nós temos dentro da comunidade. Mas, visto que o assunto é bastante extenso, porque as marcas cármicas são altamente complexas, o próprio Buddha diz que nós não devemos tentar analisar o carma e todas as suas consequências, porque a quantidade de interações é tão vasta, tão imensa, que fazer essa análise é como optar pela loucura. Então, simplesmente aceitamos as nossas marcas cármicas que não causam sofrimento ao outro, aceitamos nos outros as suas marcas cármicas e tentamos alterar tudo aquilo que causa sofrimento ao mundo ao nosso redor.
Pergunta: Bom dia, caro Sensei e Sangha! Pergunta: é correto afirmar que a manifestação humana, por exemplo, é a manifestação consciente de uma pequena parcela do Vazio, Mente Infinita? Peço a gentileza de comentar, muito obrigado.
Genshō Sensei: Nessa pergunta, há a ideia de que a Mente Infinita ou Vazio é algo. Este é o erro de tentarmos reificar a Mente Infinita, transformar isso em um algo. Esse é um dos problemas da analogia, por exemplo, do mar. Nós dizemos: nós somos manifestações cármicas como as ondas na superfície do mar. Aí as pessoas pensam, por analogia, que o mar é uma representação do Vazio e, portanto, o Vazio é algo assim como o mar é algo. Mas o Vazio é o Vazio, e é por isso que se usa a palavra “vazio”. Não é uma coisa em si, um algo como o mar é.
Nesse tipo de pergunta, há a tentativa de transformar o Vazio no mar, o Vazio ou a Mente Infinita numa realidade da qual somos uma pequena parcela. Não é assim. Estamos falando do Vazio exatamente como ele é. Ele não é nada mais do que as próprias formas se manifestando. Se você tirar as formas, não existe Vazio. As manifestações não são uma parte do Vazio. Elas surgem no Vazio. Assim como numa tela surge uma pintura. Mas se nós pensarmos que a pintura é uma parte da tela, estaremos errados. Não é. A tela é simplesmente a potência na qual é possível surgir uma pintura.
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Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual no primeiro semestre de 2024.