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Pergunta: Bom dia, Sensei! Até que ponto, então, temos realmente escolha se as marcas cármicas nos direcionam?
Genshō Sensei: Nós temos um espaço de escolha, um espaço para mudar nossas marcas cármicas, mas, em geral, somos conduzidos por elas e não conseguimos sair da prisão em que nos colocam. É como se estivéssemos sendo arrastados pela correnteza de um rio. De vez em quando, conseguimos sair da correnteza em um remanso. Existem oportunidades para sair daquele rio, mas, em geral, somos arrastados, e isso pode ser examinado em sua própria vida. Em geral, as condições da vida direcionam para uma determinada direção, e você não consegue mudar muito. É preciso ser muito radical e fazer um grande esforço, como acontece, por exemplo, com o imigrante. Ele sai, vai para outro país, tenta entrar em outra cultura, tenta se encaixar e tudo mais, mas ele é sempre estrangeiro. As marcas continuam com ele. Sempre é assim.
Uma época, eu ganhei uma bolsa para estudar na Holanda, na cidade de Terschelling, e quando estava lá, na década de 80, pensei que poderia ficar na Europa para sempre, como uma irmã minha ficou. Eu pensei “deveria?” e concluí “não!” Aqui, eu sempre seria um cidadão de segunda classe. Nunca serei uma pessoa que fala sem sotaque. Nunca serei realmente holandês ou alemão. Serei sempre o imigrante. Mas no Brasil, eu não sou cidadão de segunda classe, sou cidadão de primeira. Eu já tinha uma boa posição, já era diretor de uma indústria nessa época quando fui para lá fazer um curso. Então, concluí “não, meu lugar é no Brasil”. Por quê? No momento, eu não sabia, mas a minha marca cármica era suficientemente forte para definir isso. Para mudá-la, eu teria que fazer um esforço gigantesco, e é isso que acontece. Você pode mudar sua marca cármica, mas ela sempre exige um grande esforço. Como acabei de narrar, me tornar um monge também foi, na verdade, um esforço extenso.
Pergunta: Bom dia, Sensei e a todos! Como assim “escolhas definitivas”? Se elas vão se apresentando com o movimento da vida?
Genshō Sensei: Quando falei sobre escolhas definitivas, por exemplo, fazer uma tatuagem é uma escolha definitiva. Quando você decide ter um filho, é uma escolha definitiva. Difícil de escapar. Quando você toma a decisão de matar, é uma escolha definitiva. Então, existe sim movimento e fluxo na vida, mas, nesta vida, deste momento, existe também a possibilidade de escolhas definitivas, que, quando feitas, não têm mais como voltar atrás. Se você pula de um edifício de vinte andares, como vai voltar atrás? Se você destrói o corpo, é uma escolha definitiva. Portanto, escolhas definitivas existem, e elas praticamente anulam suas opções de mudança nesta vida.
Pergunta: Bom dia, Sensei! Como levar isso para nosso dia a dia: a busca pelo prazer x evitar o que nós gostamos? Existem muitas coisas que nos dão prazer, como exercícios físicos, alimentos, leitura, filmes, etc. Como equilibrar esses prazeres com a nossa prática?
Genshō Sensei: Seguindo o caminho de Buddha. O caminho de Buddha diz o quê? Que o caminho do meio é o caminho da sabedoria. Nem exagerar para um lado, nem para o outro. O caminho do meio envolve moderação em tudo. Portanto, existe espaço para equilíbrio e para você aproveitar, ter alegria em sua vida, sem fazer coisas que a destruam.
“O Dharma é incomparavelmente profundo e de uma sutileza infinita. É raramente encontrado, mesmo em milhões e milhões de ciclos universais. Possamos nós agora ouvi-lo, aprendê-lo e guardá-lo. Guardemos cuidadosamente as palavras do Tathāgata.”
Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual no primeiro semestre de 2024.