O Sermão de Huineng - Parte V | Monge Genshô

O Sermão de Huineng - Parte V | Monge Genshô

“Sabei, são as paixões que dão lugar ao despertar”, quando você se desprende das paixões vai em direção ao despertar, “enquanto o pensamento está cego, uma pessoa é um ser ordinário, mas quando está desperto o Buddha está ali. A grande sabedoria que conduz à outra margem, Maha Prajna Paramita, é insuperável, não vai nem vem, não tem presente, nem passado, nem futuro. Todos os Buddhas de todos os tempos procedem dela. Pela sabedoria suprema os cinco agregados,” os skandas: contato, sensação, percepção, formações mentais e consciência, “paixões, angústias e tormentos são aniquilados. Ela, a sabedoria suprema, transforma os três venenos da existência em disciplina, concentração e serenidade. Benévolos ouvintes, minha lei, que aporta do despertar nasceu das 84 mil sabedorias. Por quê? Porque existem neste mundo 84 mil tormentos, sem os tormentos a sabedoria seria invencível, não se desprenderia da natureza própria. Aquele que desperta a esta lei se vê liberado dos pensamentos, das recordações e dos apegos. Não rechaceis, pois, nem vossas mentiras, nem os erros de vossa mente”.

Ele está falando exatamente sobre o zazen. Sente em zazen, não lute com você mesmo, nem com suas mentiras, nem com seus pensamentos, simplesmente os deixe cair, os abandone e volte para a única realidade verdadeira: o momento presente.

Prossegue Huineng: “eles formam em si a natureza de vossa asseidade, thatata” traduzido em português como talidade, ou as coisas tais como são “contemplai toda coisa à luz de vossa sabedoria. Assim, sem apegarmos e nem renunciar a nenhuma mente, vereis a vossa natureza e alcançareis o caminho de Buddha”.

Alguns comentários: quando nos apegamos ou rejeitamos qualquer coisa com a nossa mente, estamos nos distanciando da sabedoria, porque estamos tendo apego ou aversão. A nossa atitude no zazen deve ser ausente de ambas as coisas, apego e aversão. E devemos cultivar um estado pacífico de não consideração, não julgamento, não submissão às coisas ao nosso intelecto.

Isso não significa, como alguns praticantes enganosamente julgam, que devemos levar para a vida uma atitude de não julgamento. Não é assim.

Os preceitos estão cheios de certo e errado, caminho correto e caminho enganoso e portanto é necessário julgarmos tudo, assim como para nos aproximarmos das pessoas boas e nos afastarmos das pessoas perdidas, para não sermos arrastados por elas é necessário exercitar julgamento.

Essa atitude de não julgar é para o zazen, mas não na vida, onde para cumprir os preceitos e fazer funcionar os caminhos corretos é necessário estar atento e ter uma mente que julga e decide.

Teishô proferido por Meihô Genshô Sesnei, Daissen-virtual, março/2022.