O satori do Zen Soto é, pois, o redescobrimento do estado original esquecido, além de todas as observações de que é suscetível a consciência saída do cérebro frontal; deixa de ser, portanto, subjetivo, para ser totalmente objetivo.
O zazen, que é a essência do ensino do Buda e dos Patriarcas que lhe sucederam, permite a ultrapassagem de todas as contradições; é um salto para além das categorias, é Hishiryo, o pensar não-pensado, o pensar oriundo do não-pensamento. Todos os fenômenos que chegam aqui e agora não se distinguem do satori, constituem o verdadeiro satori, a verdadeira natureza de Buda. Na natureza de Buda não existe forma nem não-forma.
Zazen tem um gosto muito simples, leve, quase neutro.
Se dermos gosto ao zazen, fá-lo-emos vulgar.
É semelhante ao largo céu.
E ao oceano sem limites.
O satori é unificação, unidade, não-separação. O próprio zazen é satori. A ação é a certificação do satori. O satori não é, pois, um acontecimento, mas um estado permanente que subsiste até a morte. Entretanto, nem por isso devemos esperar entrar no caixão para obtê-lo, será tarde demais. Para cada pessoa, o satori é, a um tempo, diferente e idêntico, como a Lua que se reflete tanto numa gota de orvalho ou numa gota de xixi de cachorro quanto no oceano. Cumpre rejeitar tudo, corpo e espírito, para que o zazen nos acompanhe; seguimo-lo sem fazer uso da força, da consciência. Inconsciente, natural, automaticamente, nós nos separamos das ilusões e obtemos o satori.
A postura do zazen é o satori.
O zazen deve arrastar o pensamento humano na direção do Buda, da ordem cósmica. A postura do zazen é semelhante à postura alongada do leão, ao rugido do dragão. É digna do máximo respeito.
Quer estejais sentado, de pé ou deitado, deveis ser parecido com o rei dos leões, que permanece totalmente livre e forte, bravo e sem medo; se outras pessoas vierem ver a vossa postura, esta deve ser tal que elas não possam aproximar-se, tamanha a dignidade que dela emana.
Rejeitai, num só golpe, todo pensamento e todo saber e, se fizerdes Shikantaza e sentardes em zazen abandonando tudo, pouco a pouco vos familiarizeis com o satori. Atingireis então o Caminho utilizando o corpo de modo apropriado, especialmente se vos sentardes.
‘O ANEL DO CAMINHO – Palavras de um Mestre Zen’, de Taisen Deshimaru, Editora Pensamento.