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Entende-se então que, a minha consciência e o objeto surgem coemergentemente. Em qualquer outro universo, em qualquer outra forma de percepção, eles seriam outras coisas. A realidade objetiva que vocês veem no mundo, que vocês veem a sua volta todo o tempo, é em grande parte produzida dentro de vocês mesmos, por suas consciências. Esse é o ponto importante dessa aula.
Kant já havia visto, ele morreu em 1804, então é um homem do século XVIII, mas ele já tinha visto que aquilo que é realidade depende de uma consciência e da concepção que ela tem. Ele chega a dizer que se não houvesse essa consciência, esse objeto seria não existente. Isso é verdade no sentido seguinte: esse objeto não é um Zafu, se não para nós, em budistas, que sentamos sob os Zafus. Para outras pessoas, com outras concepções, isso aqui não é um Zafu, um objeto para sentar. É alguma outra coisa qualquer. E essa faixinha branca não tem o menor sentido. Só tem sentido para nós que escrevemos nossos nomes nas faixinhas brancas, para a gente saber de quem é o Zafu. É só isso.
Kant tinha razão ao dizer que o objeto surge simultaneamente com essa consciência que o observa. Senão, ele não é aquilo que parece. Então, as propriedades de um objeto dependem da sua interpretação. No caso, como aconteceu no início da proposição da mecânica quântica por Bohr, em 1930, a declaração é que os objetos só existem como tais devido à sua medição e sua interpretação. Desta forma, a medição é alterada pelo próprio observador. Existe um conjunto que é o observador e o objeto observado. No exemplo que eu dei do Zafu, é exatamente o que Bohr tentou dizer. Esse objeto, ele só existe como tal porque há um observador como tal aqui. Se não houvesse esse observador, o objeto não seria o que está parecendo.
O interessante é que os textos budistas que dizem que sujeito e objeto são uma unidade, e recitamos nos mosteiros budistas há séculos o Sandōkai, que diz haver uma identidade entre sujeito e objeto. Esses textos são séculos anteriores à mecânica quântica e às interpretações filosóficas como a de Kant. E, no fundo, toda essa aula se resume a uma frase. A realidade é só uma interpretação.
Se a realidade é apenas uma interpretação, então, se você muda sua consciência, sua mente, a maneira como você olha o mundo, você muda o mundo. Isso, no fundo, é exatamente o que o despertar e a iluminação de Buddha significam. É o mesmo mundo, mas não é mais o mesmo mundo.
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Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual em 24 de fevereiro de 2024.