O Quinto Elo – Parte 4 | Monge Genshō

O Quinto Elo – Parte 4 | Monge Genshō

[CONTINUAÇÃO]

E isso é uma coisa que me encantou no Budismo. Porque o Budismo, através da história, ele é cambiante também. Ele vem sempre sendo construído e aperfeiçoado através dos tempos e adaptado a novas circunstâncias e culturas.

Essa é a história do Budismo. A história do Budismo não é um congelamento em dogmas em que digamos: o que quer que esteja escrito fora disso é uma inverdade.

O Budismo não, ele está perfeitamente apto a mudar de ideia e ter um aperfeiçoamento. E essa é a história do Budismo, uma construção contínua. Os estudos e as percepções de Nāgārjuna alteraram profundamente as percepções anteriores do Budismo. As da escola Yogācāra e as do Zen também, são propostas diferentes. Tanto que as coisas do passado remoto do Budismo não são praticadas ou ensinadas hoje, porque já foram mudadas através do tempo, porque o Budismo tem essa capacidade de mudança e de dizer, não, eu não aceito tudo o que o meu mestre disse em tal coisa que já está demonstrada que é diferente. Cada mestre, cada linhagem, ensina de forma um pouco diferente. E isso é uma virtude que só o Budismo tem, por não estar preso a dogmas rígidos.

Agora, um outro ponto importante nesse Elo, é a questão de que existe uma convergência entre objeto e observação. Nós olhamos um objeto e vemos. Eu tenho uma miniatura de um Zafu aqui, sempre em cima da mesa para dar essa explicação. Eu vejo a luz que bate nesse objeto e a interpreto como um objeto. Eu toco e sinto com o meu tato. Agora, este é todo o objeto? Não. Isso é apenas as aparências desse objeto que meus sentidos captam. Na verdade, em outros níveis, por exemplo, ele é uma nuvem de átomos. Extremamente vazios.

Tanto que cada átomo, se tivesse o tamanho da cúpula da Catedral de São Pedro, teria seus elétrons probabilisticamente existindo na cúpula, e o núcleo, que seria 99,9% de toda a massa do átomo, seria um grão de sal no meio. Todo o resto é espaço vazio. Isso é o que é um átomo, e todos vocês são feitos de átomos.

Na realidade são os meus dedos que têm energia. E a miniatura do Zafu também. Eles não se interpenetram porque a força que sustenta os elétrons e os átomos entre um corpo e outro resistem. Mas, na realidade, temos um espaço praticamente vazio tocando em um espaço praticamente vazio. É muito pouca coisa que existe na realidade como matéria aqui.

Então, o que eu tenho é um objeto e uma série de observações que são uma interface entre mim e o objeto que eu estou vendo. Mas aquilo que eu descrevo como objeto, ou como eu sinto, são apenas as aparências nele. E ele existe como miniatura de Zafu apenas por causa da minha interpretação destas aparências que meus olhos e meus dedos proporcionam. Meus olhos e meus dedos, são as janelas de percepção do mini Zafu. Para outro ser qualquer que enxergasse de outra forma, eles seriam diferentes. Se eles vissem o espaço vazio, veriam apenas nuvens de espaços vazios interagindo. Não veriam isto

E o que eu quero dizer, isso que é importante do ponto de vista do Budismo, é que o objeto só existe como aparência para mim. O objeto verdadeiro não é visto. Essa realidade, tal como é vista, depende da minha consciência e da concepção que ela tem de que isso é um mini zafu. Portanto, este objeto surge coemergentemente comigo como observador. Eu, observador, é que vejo o objeto e o transformo no que ele é. Isso dá uma identidade entre sujeito e objeto. Eu, sujeito e objeto só interagimos e nos vemos tais como são, tais como parecem, a partir de conceitos que estão dentro de mim, dentro da minha consciência.

[CONTINUA]


Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual em 24 de fevereiro de 2024.