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Quando eu era criança as nebulosas eram manchas brancas que víamos no céu à noite. Nós não nos dávamos conta de que eram galáxias com tantas ou mais estrelas do que essa em que nós estamos. E todas as estrelas que vocês veem no céu, na prática, abstraindo essas nebulosas, são as estrelas nossas, próximas, da Via Láctea.
Mas, voltando ao James Webb, ele fotografou então aquela área delimitada do céu durante tempo suficiente. E a fotografia é impressionante. Nessa pequena área do céu apareceram 1.500 galáxias, cada uma delas com centenas de bilhões de estrelas, como a nossa Via Láctea. Mas, mais do que isso, as galáxias que estamos vendo agora e que tiveram a oportunidade de ver nesse instante não são mais que passado.
Há galáxias que estão a mais de 13 bilhões de anos-luz de distância. E que, portanto, deveriam ser jovens, se estamos olhando a partir da ideia de um Big Bang. De que esse nosso universo começou concentrado e se expandiu. Então, o que está bem longe teria de ser novo, porque estamos olhando para 13 bilhões de anos atrás.
A luz que chega para nós é de 13 bilhões de anos atrás. Mas, incrivelmente, o que se verificou agora, nesse instante, é que essas galáxias estão velhas, e que são galáxias como a nossa, velhas.
Essa verificação explode a ideia do Big Bang. As nossas teorias sobre a formação do universo, do próprio Big Bang, do início concentrado, da inflação cósmica, da expansão do universo, estão em questão neste momento. Nós não sabemos mais. Nós não sabemos o que estamos vendo.
As nossas teorias anteriores simplesmente estão em xeque. E todo mundo está tonto. Isso demonstra o fato de que nós simplesmente não sabemos. Que estamos num mundo em que nós vemos através das extensões dos nossos sentidos. Que nossas teorias de compreensão do universo funcionam durante um determinado tempo e depois param de funcionar, porque temos informações que contraditam aquilo que nós pensamos antes.
Muito tempo atrás, nós pensávamos: não, esse é o único mundo, tudo gira em volta dele, nós somos muito importantes, somos o centro do universo, as estrelas são buraquinhos que os anjos abrem no céu para espiar a terra e etc. Eram essas as teses na época medieval. Todas elas completamente explodidas e a ideia de que nós, seres humanos, somos importantes ou criações de um Deus explodiram à medida que ficamos sabendo mais.
O importante para nós, na questão do Saḍāyatana, dos sentidos, é que a realidade que nós julgamos que existe, são as aparências que nossos sentidos captam. Nós vemos determinadas aparências e dizemos, isto é a realidade. Só que, com todas as considerações que eu fiz até agora, fica claro que aquilo que nós olhamos como aparências, são muito limitadas em relação ao que o universo na realidade é.
A realidade é muito mais ampla do que nossos sentidos captam. Muito mais profunda e muito mais complexa, a ponto das nossas teorias no momento não darem conta. As teorias da ciência são aproximações. Aproximações cambiantes, que vão mudando suas ideias e tentando se aproximar de uma realidade. Tudo que a ciência declara é verdade hoje, mas provavelmente não será verdade amanhã, porque vamos descobrir algo mais profundo e complexo do qual nossas teorias atuais não dão conta.
Essa é uma virtude da ciência, porque ela não fica presa num dogma e pode sempre dizer: não, aquilo que a gente estava pensando estava errado, agora temos esse outro dado e nós podemos mudar. Isso é uma maravilha, não é?
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Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual em 24 de fevereiro de 2024.