Pergunta: O que fez com que o Buda visse as 500 vidas anteriores dele? O que determina isso? Há um princípio para isso?
Monge Genshô – Este assunto não interessa. O budismo não discute coisas não verificáveis. Você pode perguntar “como começou o mundo?”. Ah, não interessa. Têm várias teorias científicas para isso. Como começou o primeiro carma? Não sei. Eu sei que há carma aqui e agora, porque todas as ações tem efeitos e consequências. E é sobre isso que o budismo fala. Ele não faz especulações filosóficas que não temos capacidade de responder. Desta forma o budismo vem evitando todos os conflitos com a ciência que todas as outras religiões já tiveram. Porque o budismo não é religião de explicação, isso aí é para a ciência. O budismo é a religião do despertar, cujo interesse é saber como funciona o processo de ilusões na mente, como elas são construídas. Ah, se existe um impulso, uma consciência que resiste à morte e renasce em outro corpo. Sim, me parece bastante plausível. Mas está claro que ela não carrega um “eu”, não carrega uma personalidade. Se carregasse um “eu”, eu me lembraria de uma vida passada, e o meu eu seria o agregado das memórias da vida passada também. Mas eu não tenho memória de uma vida passada, só tenho desta. Portanto, todos os “eus” surgem agora e cessam agora. Se há continuidade, me parece evidente por uma questão de justiça. Se existe continuidade do carma, então existe continuidade de tudo o que você fez. E se eu tivesse um acesso de sabedoria superior, eu poderia rememorar vidas passadas. Mas isso é inútil aqui e agora! Completamente inútil para você. Primeiro você precisa despertar, e talvez aí isso seja útil.
Então, o budismo considera a continuidade desde impulso que irá se manifestar em novas existências, mas não ficamos discutindo isso. Até para vir se sentar e fazer meditação, isso não importa. O que você acredita não tem muita importância.
(Final das perguntas e respostas na palestra no centro de yoga em Palmas, Tocantins, decupada da gravação por Sonielson San)