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Eu ia dizendo que é como se houvesse um clique na sua mente, que você pudesse trocar de uma coisa para outra. Mas o mais interessante é que, quando você vê uma coisa, não vê outra e também que existe, então, um espaço de liberdade dentro da sua mente. Existe uma liberdade para ver uma coisa ou outra. Até o momento em que você faz uma escolha. Existe um momento em que a figura no papel, que você está vendo, não é mais do que tinta e papel. A figura que você vê, o que é? Tinta sobre o papel. Então, tudo que você vê, quando vê uma figura, está onde? Tem tinta e tem papel, não é? Tem manchas coloridas, mas você olha as manchas coloridas e as interpreta e vê uma figura. Esta figura que você está vendo está inteiramente dentro da sua mente, porque aqui no papel só tem manchas coloridas.
Existe um espaço na sua mente de capacidade interpretativa, em que você poderia ver apenas, tente, tinta e papel. Consegue ver só manchas coloridas? Tornou-se difícil, não é? Porque nós estamos acostumados demais a interpretar isso como figuras humanas. Mas essas figuras humanas que você está vendo não são mais do que interpretação dentro da sua mente para tinta e papel.
A mesma coisa ocorre quando escolhemos torcer por um time. As pessoas vão e escolhem um time de futebol. Talvez seu pai tenha levado você para ver um time jogando pela primeira vez, e você, de alguma maneira, escolheu um dos times para torcer. À medida que você se incorpora àquele time como parte da sua identidade, ‘eu sou torcedor do Corinthians’, ‘eu sou torcedor do Palmeiras’, ‘eu sou torcedor do Flamengo, do Fluminense, do Grêmio, do Internacional’, qualquer escolha que você fizer é como uma destas escolhas, não existe nada lá, só homens, camisetas com cores diferentes, o nome de um time, que você escolheu. Esta escolha pode se transformar em uma paixão, uma paixão muito forte. E tão forte essa paixão pode ser que você pode brigar por causa dela, ou pode desfazer uma amizade porque aquele seu amigo é torcedor de outro time, e vocês brigam por causa de uma discussão qualquer a respeito de um jogo.
Todo o jogo, as camisetas, o time, o nome, a sua escolha foram como a escolha de uma figura reversível. Você poderia escolher um time ou outro, você escolheu um. E à medida que a sua escolha se consolida, ela cega você para qualquer outra possibilidade e você só vê uma das possibilidades. E ela transforma-se então em parte da sua identidade. E isso acontece também com o seu nome, com a sua opção sexual, com a sua identidade racial, com a sua identidade nacional, todos eles são assim e essas paixões podem ser tão absurdamente grandes que podem levar a conflitos sérios como guerras, vejam o que acontece no Oriente Médio nesse instante.
Alguém me perguntou em uma palestra que eu estava fazendo esses dias no CEBB (Centro de Estudos Budistas Bodisatva), Lama Padma Samten e alguém perguntou sobre conflito no Oriente Médio, e eu expliquei que a questão em que as pessoas querem escolher sobre que lado está certo e está errado já é superficial. Porque a questão fundamental não é essa, a questão fundamental é a identidade. Aquela escolha que aconteceu em algum momento, você escolheu ser palestino ou escolheu ser judeu. Houve uma escolha, e você se identificou, quando você nasceu você não sabia que identidade tinha. No momento em que alguém assume uma identidade, ela pode se transformar em um fanatismo, esse fanatismo pode ser de um grupo menor da sociedade, como é caso dos terroristas do Hamas ou dos supremacistas israelitas. São grupos pequenos de fanáticos que só veem a sua identidade, mas eles são capazes de arrastar, com as suas iniciativas e ações, povos inteiros, mergulhando cada vez mais em uma ilusão.
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Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual em dia 20 de janeiro de 2024.