O verdadeiro vazio é o corpo de essência, e o corpo de essência é o Tathagata, aquele que assim como vem assim vai – este é um dos nomes de Buda. Dito de outra maneira, meu corpo é o corpo de essência, e o corpo de essência é o meu corpo. A mente infinita é o meu corpo, e o meu corpo é a própria mente infinita. Os seres dos dois veículos não sabem que os elementos são originalmente a substância do corpo da essência, o Dharmakaya, e creem que esses elementos constituem coisas inanimadas. Nós pensamos que estes átomos são coisas inanimadas.
Quando um Bodhisatva os olha vê que os elementos são em seu conjunto a verdadeira substância do corpo da essência, Dharmakaya. Ou seja, os átomos são a própria mente infinita e a mente infinita são os próprios átomos: “o vazio é a forma, a forma é o vazio”, é o que está escrito no Sutra que nós recitamos de manhã, o Sutra do Coração da Grande Sabedoria. Se nós compreendêssemos só aquele pequeno texto, que dura 3 minutos e pouco para recitar, que diz “vazio é forma, forma é vazio”, só entender isso é suficiente, está tudo condensado nessa frase. Tudo é o próprio vazio, ou a mente infinita, ou o inconcebível, tudo é isso, e uma coisa é indistinguível da outra. Você é a própria mente infinita, mas não enxerga. Você olha para você mesmo e vê nuvens de átomos, esses átomos estão passando por você, sendo trocados a todo momento e você continua como forma. É como uma onda no mar, a energia passa, toda água da onda um metro depois é outra, só passou a onda, o impulso, a energia cinética que está movimentando a água. A onda não se move para frente, só quando quebra na praia, mas, no mar, ela só passa.
Como aqui, eu falo e vocês ouvem o ar vibrando, mas não tem vento, não é um vento que vai até vocês, é só a vibração do ar que sacode uma molécula de ar que sacode outra, que sacode outra, até chegar aos ouvidos de vocês, não é assim? Nós também somos assim, e todas as substâncias no nosso corpo estão continuamente sendo trocadas, mas nosso impulso continua para frente. Nossas vidas também são assim, sucessões e sucessões de vidas, são só os impulsos passando, e os corpos são completamente diferentes a cada momento. É a mesma coisa.
“Quando o Bodhisattva olha os elementos, vê que seu conjunto é a verdadeira substância do corpo da essência, o Dharmakaya. É por isso que o Surangama Sutra declara que a matéria da natureza é o verdadeiro vazio e o verdadeiro vazio é a natureza”. Troquem vazio por mente infinita, por inconcebível, pelo que quiserem, vai dar no mesmo. A matéria da natureza é a verdadeira mente infinita, e a mente infinita é a matéria da natureza. O vazio se manifesta como forma, e a forma é o próprio vazio. Nós somos a própria mente infinita, só que não percebemos que somos a mente infinita, e, como não percebemos que somos a mente infinita, extraviamo-nos em um sonho de um eu separado e particular. O eu desta onda de átomos, desta vida que está se manifestando aqui e agora. Por isso, quando o Bodhisattva vê claramente o vazio dos agregados, livra-se instantaneamente de toda dor e sofrimento, porque as coisas todas são a própria mente infinita, e tudo aquilo que parecia dor e sofrimento não é.
Só parece que é dor e sofrimento porque nós olhamos das perspectivas de um eu, mas se não olharmos da perspectiva de um eu, será como aquela imagem que já repeti várias vezes de olhar o mar da perspectiva da beira da praia. As ondas que quebram e morrem não causam sofrimento para nós, nós as olhamos e achamos o mar lindo. Todas as mortes, sofrimentos, acontecimentos humanos parecem sofrimentos mas não são, são ilusões tão significativas como as ondas quebrando na beira da praia. A vida continua linda, não tem importância alguma, tudo só parece, são aparências, mas não são a própria realidade. São só surgimentos e desaparecimentos, mas nada no fundo mudou, tudo continua ali.
[Trecho de palestra proferida por Genshô Sensei]