Pergunta: Como o Zen vê esses escritos que foram deixados?
Monge Genshô: O Zen vê de forma diferente. Algumas escolas budistas veem como escritos que expressam uma realidade, uma verdade. O Zen vê com olhos críticos. Como professor do Zen eu posso ver um texto que é atribuído a Buda e não estar de acordo com ele. Por ser professor do Zen, já sou um herege, então apenas continuo essa ideia.
Por exemplo, há escritos do tempo de Buda que dizem assim: “a vida surge de um ventre, um ovo ou da umidade”. Da umidade? Nós estamos falando de séculos antes de Cristo; Pasteur estava muito longe dessa época e ninguém sabia nada sobre geração espontânea, sobre microbiologia, sobre como surge a vida microbiana, de modo que achavam que se houvesse umidade era possível criar vida. Muita gente ainda diz hoje: “não deixe sujeira aqui na pia porque cria barata”. Ora, não cria barata! As baratas que estão por aí vão vir atrás da comida, só isso. Mas ainda no nosso linguajar está essa ideia distorcida. Nós sabemos que não é assim, então o Sutra está errado. Qual é o problema de eu dizer que o Sutra está errado e que Buda não entendia de microbiologia? É natural que não entendesse. Buda existiu 2.300 anos antes dessa descoberta.
Então não vou abdicar da minha mente crítica e vou repetir as próprias palavras de Buda: não acreditem em mim, testem e experimentem. Eu não trago uma verdade que vocês têm que aceitar. Não é isso. Eu como professor do Zen tenho que mostrar o que sei, ajudá-los a raciocinar, mas vocês têm que testar e experimentar, não podem aceitar nada pelo argumento de autoridade ou porque o Mestre tem título. Isso não é razoável, não é inteligente.
[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]