O oitavo passo (cont)

O oitavo passo (cont)

O oitavo passo tem como símbolo o círculo vazio, Nem boi nem homem. “No estágio anterior,Perdido o boi, resta o homem você pode ter pensado que tudo terminou. Porem agora aparece outro estágio no qual tanto o boi como o homem são esquecidos. Aqui temos um verso zen; “De noite engalfinharam-se dois touros de barro, desaparecendo no mar enquanto lutavam, e esta manha nada se ouve deles”.
No momento em que o ego aparece, surgem as circunstâncias. Quando o ego se esfuma, se esfumam as circunstâncias. A subjetividade e objetividade se acompanham mutuamente. Vamos contar a historia de uma Deidade guardiã que desejava ver Tozan Osho, mas não conseguia. Ele colheu uma porção de cevada e arroz na cozinha e espalhou no pátio. Tozan ao ver os grãos pensou – Quem poderia ser tão negligente? –
naquele momento a deidade pôde ver Tozan, pois a deidade só vê egos. Na mente de Tozan manifestou-se pressão interna, como uma nuvenzinha num céu de verão. Veio e dissipou-se deslumbrante na brilhante serenidade do meio dia e logo tudo voltou a acalmar-se novamente”. Essa historia tenta nos mostrar que Tozan tendo se iluminado não era movido pelos pensamentos, dessa maneira era invisível para deidades. Então a deidade resolve espalhar cevada no chão e desperta aquele pensamento na mente de Tozan – Que monge seria tão descuidado, quem foi tão negligente? – E com essa leve indignação ele tornou-se visível, tornou-se visível é uma metáfora para ter um eu, e logo a seguir ele desapareceu de novo para as deidades. “Esse estágio corresponde ao dito do Mestre Hinzai “tanto homem como circunstâncias estão desaparecidos”.
Sekida diz que “podemos distinguir arbitrariamente um numero de graus de consciência. Nível A; o mais elevado em que os pensamentos e as idéias vão e vem. Nível B; um grau que compreende, mas que não forma idéias. Nível C; um grau
que é só consciente. Nível D; um grau que simplesmente reflete os objetos internos e
externos como faz um espelho”. Quando ele diz o mais elevado, ele se refere ao mais elevado nível de consciência existente, não quer dizer o melhor, mas sim o pior, o grau em que a consciência está mais presente, aquele em que as idéias vão e vem. A medida que diminui a consciência sobe o nível, logo, um nível mais baixo de consciência é o mais elevado de realização.
O segundo um grau que compreende mas não forma idéias, o terceiro um grau que
é só consciência, que simplesmente reflete os objetos internos e externos como faz um
espelho, neste estado aparecerão em ocasiões rastros de ação reflexiva da
consciência que iluminarão momentaneamente o cenário da mente.” Nível E; o
grau mais profundo, onde não penetra nem a mais tênue ação reflexiva da consciência,
aqui manifestam-se certos vestígios de nosso estado de ânimo, é uma espécie de memória do tempo de nossa vida e de nossos antepassados. Querem subir a superfície da consciência para expressar-se. Mesmo que a entrada não lhes seja permitida, não deixam de afetar,mesmo que de maneira remota, mas importante, a corrente de atividades da consciência que está em mudança afetada pelos pensamentos “nen” (impulso que precede o pensamento) que aparecem a cada momento. No samadhi absoluto a atividade cerebral fica reduzida ao mínimo limpando-se a fundo a procura da antiga memória. Varre-se o modo habitual da consciência, desaparece o reflexor e o refletido, um mundo de profundas nuances. Esse estágio é chamado de samadhi sem pensamentos que é idêntico ao samadhi absoluto. É o estado em que podemos dizer nem bois nem homens.
O que importa para nós é que o que queremos guardar da memória é algo tremendamente perturbador para o samadhi, porque ele retorna, e todas as vezes que retorna o samadhi está anulado. Nós praticamos zazen para treinar o samadhi, a concentração, o momento presente. Todas as instruções iniciais podem ser reduzidas a uma única, fique no momento presente. Não quer dizer realmente não pensar, mas é uma forma muito sutil de pensamento, que é mera percepção das coisas em volta. A sensação estou aqui nessa sala, ouço esse som, percebo. Há percepção mas não há julgamento, considerações, estimativas, planejamentos, intenções, só treinar o samadhi. Estou em samadhi, plenamente presente. Aí surgem memórias e quando elas surgem elas nos tiram do samadhi. Os pensamentos surgem um sucessivo ao outro, não existem dois pensamentos simultâneos, não existe um pensamento sempre presente. O que acontece é que um pensamento expulsa o precedente, normalmente encadeados, como um link num texto do computador. Você clica, acessa aquele substrato da memória, acessa aquele arquivo. É como na tela do computador, você não vê duas imagens ao mesmo tempo, sempre que surge uma imagem ela expulsa a anterior, pode até ter um alerta avisando que você tem um arquivo, mas você precisa clicar nele para abrir, sempre um arquivo expulsa o outro. Na tela da nossa consciência, só surge uma coisa de cada vez, é que normalmente ela chamam outras e nós ficamos fazendo essa sucessão de pensamentos e isso é a atividade mais baixa, é o nível de realização mais baixo, ou seja, realização zero, é uma mente que vive de encadeamentos de pensamentos ou presa a memória e emoções sempre invasivas, significa controle zero do boi,o boi vai para onde quer.