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Praticante: Como se libertar do desejo?
Genshō Sensei: Depende se for um mau desejo. Se for um mau desejo, então temos que mudar a maneira de pensar, a compreensão e tudo mais, em primeiro lugar, para mudar nossa atitude. O desejo de se vingar, por exemplo, de alguém que nos fez mal, ele tem que ser substituído pelo desejo de ajudar esta pessoa, de transformar o inimigo em amigo. Essa seria a maneira correta.
Agora, os desejos, por exemplo, o desejo de ficar rico. Significa também passar por cima de todos os outros, em todas as ocasiões possíveis e necessárias para acumular mais dinheiro. Esse será um péssimo desejo. Por esse motivo, nós temos que prestar atenção e saber do que nós estamos falando.
Praticante: O esforço extremo em se desprender dessa ânsia seria também uma forma de entregar a nossa liberdade?
Genshō Sensei: A ânsia sempre vai levar a uma perda de liberdade. Agora, um esforço para deixar a ânsia, tem que ser uma outra abordagem.
Temos que saber qual é o motivo que alimenta esta ânsia, como ela nasceu, como ela se desenvolve, qual é a lógica dela. A compreensão dela, é que seria a forma de nos libertarmos dos aprisionamentos que essa ânsia nos traz.
Praticante: Como, equilibrar os caminhos dos sonhos e planos, podem tornar benefícios que nos motivam, sem se perderem apegos?
Genshō Sensei: Nós não vamos viver sem planejamento e tentar estipular maneiras de alcançar determinados objetivos. É necessário planejar, só que você não pode fazer com que os planos se tornem seus ditadores.
De modo que você tem que manter em mente a frase de Saikawa Rōshi, que temos bastante presente: A vida se mostra a cada passo. Quando há um determinado passo que você dá, você sabe que há um passo a seguir, e ele é determinado por circunstâncias. Logo, os planejamentos têm que estar prontos para serem flexíveis, para mudar, não podem ser aprisionadores, não podem ser rígidos demais.
E isso é bem conhecido em muitas atividades humanas. Nem é, vamos dizer assim, um ensinamento budista em si,
Praticante: Em que momento seria mais propício fazer votos para um leigo?
Genshō Sensei: Depois de ter feito dois Sesshins oficiais da Daissen, outros não valem. Estar na sangha há mais de dois anos, sendo um praticante coerente, dedicado. Ter feito o módulo um do CED. Você pode pedir em dokusan para costurar o seu rakusu. Dá bastante trabalho, esforço, e é um verdadeiro teste para saber se uma pessoa vai desistir.
Praticante: O senhor poderia falar sobre o fato das tendências da mente poderem reencarnar não apenas como ser humano, mas também como animais? não havendo entidade alguma reencarnada, apenas tendências da mente, após encarnar como humanos. Como essas tendências podem não continuar em forma humana e reencarnar de forma aparentemente inferiores?
Genshō Sensei: Nós atingimos um determinado nível de complexidade que nos leva a nos manifestar como seres humanos.
Se você mantém o nível de complexidade de uma mente humana, sua manifestação é humana ou superior. Há muitas formas de manifestação ainda superiores à manifestação humana. Uma forma animal significa um obscurecimento muito grande.
Não é, em termos budistas, teoricamente, nenhum impedimento, de você regredir tanto em sua clareza mental, tornar-se tão obscuro, tão instintivo, ter um comportamento que todos diriam: ele é um animal. Se você regredir a esse ponto, sua manifestação pode vir a ser um animal. Ou seja, você pode regredir gigantescamente, basta que você por exemplo, se enterre em drogas de maneira tal, a se tornar um ser sem decisão alguma, que haja apenas por instintos e desejos e está limitado a uma situação sem nenhuma decisão, clareza mental, etc.
Mas vamos dizer que isto é teórico e, em certa medida, é difícil porque durante milhares de manifestações, você foi crescendo até chegar a esta agora. Estar manifestado como ser humano é um grande privilégio. Deveríamos tomar o máximo cuidado para não desperdiçar essa oportunidade.
Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual em junho de 2024.