O ódio só cessa com o amor

O ódio só cessa com o amor

Pergunta – O senhor poderia falar um pouco sobre a violência?
Monge Genshô – A violência é a continuação da palavra por outros meios, e a palavra é a continuação dos pensamentos por outros meios. Onde nasce a violência? O grande teórico da guerra Clausewitz escreveu que “A guerra é a continuação da política por outros meios”, ou seja, quando os homens não conseguem o que desejam apelam para meios que lhes pareçam satisfazer suas ambições e isso sempre começa com o pensamento do desejo. Quando se tem desejos e não se consegue realiza-los a primeira tentativa é pela palavra com pedidos ou ameaças. Se com as palavras não der resultado então parte-se para ações, então, pode surgir daí a violência.
O que interessa sob o ponto de vista Budista é que em qualquer desses estágios há consequências. Os pensamentos geram consequências ao formar uma mente ambiciosa e violenta. Uma mente assim produz palavras do mesmo tipo, palavras e teses para justificar-se ambicioso ou violento. Após isso vem então as ações e mesmo para estas conseguem-se justificativas. Normalmente justifica-se o uso da violência para combater a violência, como uma pessoa foi violenta com outra ela acha-se no direito de reagir também de forma violenta e isso cresce sem limites. A cada passo dado parece um caminho sem volta, cada degrau escalado, você só sobe, vai cada vez mais alto. Mas isso não é só de pessoa para pessoa, as nações também justificam-se da mesma forma.
Não faz tanto tempo que nações iniciaram uma guerra por quererem o território de outras. A tese e justificativa nazista para a Segunda Guerra foi o “Espaço vital” e para ter aquele território valia matar todos seus ocupantes. Se formos olhar na Bíblia, Livro de Números, capítulo trinta, está escrito que o Senhor Deus de Israel manda que seja tomada uma cidade e que sejam mortos todos os homens, mulheres, animais, crianças com uma única exceção, as meninas com menos de doze anos que deveriam ser poupadas para usufruto dos conquistadores. Isso foi bem antes de Jesus Cristo, mas mostra como é a mentalidade de conquista do ser humano. Houve tempo que isso era tão legitimo que estava nos livros sagrados. Ora, para Buda, 2 600 anos atrás, a consideração era “o ódio não cessa com o ódio, o ódio só cessa com o amor”.
Não podemos nos admirar que hoje exista violência, até bem pouco tempo, setenta anos atrás era o instrumento de conquista da Alemanha na Europa. Toda a história de invasão do Tibete nos anos cinquenta pela China nada mais é do que a tentativa de apoderar-se de um território, não interessa seus moradores, isso é de tal forma poderoso, que hoje existem mais chineses que tibetanos no Tibete. Os tibetanos insatisfeitos foram expulsos ou mortos e oito milhões de chineses deslocados para dentro do país. Na verdade o uso de violência com fins de conquista territorial ou de bens materiais continua até nossos tempos. Isso é tão forte que os países, no caso da China, que são seus aliados comerciais, não se pronunciam contra essa violência.