O Objetivo do Universo | Monge Genshô

O Objetivo do Universo | Monge Genshô

Pergunta: Qual o objetivo do universo de criar esse mundo de dualidade, nascimento e morte, bem e mal, por que tem esse personagem, a ilusão?

Genshō Sensei: Não sei. Essa pergunta é irrespondível, nós não temos como verificar qual é o objetivo do universo. Algumas pessoas querem dizer: “eu tenho uma missão nessa vida”. Não, ninguém lhe deu uma missão. Você tem uma vida, você é quem vai fazer coisas com ela. Você quer criar uma tarefa, um objetivo que dê significado para sua vida e faça você se sentir bem por você, mas ninguém lhe deu um papel escrito “aqui está sua missão”, como se faz no exército, por exemplo. Não existe isto.

Nós olhamos para nós mesmos e nos damos grande importância. Eu quero ter um significado, o universo tem que ter um significado, essa Terra tem que ter um significado, etc. À medida que você estuda, compreende que esse planeta é muito pequeno, está num sistema solar tão grande que cada planeta nele é como se fosse um grão de poeira, que o espaço é imenso, que a nossa galáxia tem 100 mil anos luz de diâmetro. Mas nós descobrimos há pouco, menos de 100 anos, por volta de 1930, que as outras nuvens que nós vemos no céu eram galáxias. Víamos algumas: Magalhães, Andrômeda, vimos que eram galáxias cheias de estrelas, bilhões de estrelas como a nossa própria galáxia. Só então começamos a ver mais, mais, cada vez mais profundamente e ver cada vez mais galáxias. Enxergamos hoje treze bilhões e meio de anos luz dentro do universo.

Não param de aparecer galáxias, estrelas, e nós aqui nessa Terra, nesse planeta insignificante, olhamos para os outros seres, sentimo-nos superiores, mais inteligentes que os outros primatas, sendo que o que nos separa do DNA dos chimpanzés são 4% do DNA. Na realidade, todos aqui são no fundo um tipo de primata, um tipo de macaco, e o que nos distingue dos outros macacos é termos menos pelos no corpo. É a maior distinção, como citou Desmond Norris. Mas nós queríamos ser especiais, então queremos ser filhos de um deus, um deus-homem que nos tenha feito à sua imagem e semelhança. É evidente que, se os chimpanzés tivessem um deus, o deus seria um chimpanzé. Se os elefantes tivessem um deus, o deus seria um elefante. Nós quisemos criar um mito a nosso respeito, mas se nós olharmos todos os outros seres e virmos que nós somos seres vivos na Terra com bilhões de espécies, você teria que pegar uma formiga na mão e perguntar para ela qual é o significado da existência dela, qual é a missão dela? E se perguntasse isso para o vírus da AIDS? Se perguntasse a missão da bactéria da peste bubônica, a missão do mosquito da dengue, etc., eles também deveriam ter missão porque também existem.

Por que há bilhões de vidas competindo? Inclusive competindo pelo seu próprio corpo, e você sabe o que vai acontecer com o seu corpo, não sabe? Você vai morrer e outras vidas vão comer o seu corpo, vermes vão digerir sua carne, bactérias vão comer tudo. Na realidade não sobra nada, só matéria, e ela continua sendo reciclada no universo. Se você for cremado, escapa dos vermes, mas seus ossos vão daqui a pouco estar onde? Em conchas ou nos ossos de outros animais, como tudo que você tem dentro do seu corpo. Como diz meu mestre, Saikawa Roshi, não há nada do que você tenha que não seja empréstimo. Tudo é emprestado, cada átomo do seu corpo é emprestado, já transita no universo há muito tempo, já esteve em muitos corpos. Você pode até dar pedaços do seu corpo para outra pessoa, um rim para outra pessoa, não é mais meu rim, é seu rim. Dei. É um empréstimo. Então, nada é nosso de verdade.

Olhamos para tudo querendo enxergar objetivos ou significados para nós. A resposta do zen é: as coisas são como são, o mundo é como é, viva! O sentido da vida é viver, estar vivo. Aproveite, coma, beba, ria. Viva!

Mas não há essa resposta sobre o objetivo do universo. Nós adoraríamos ter uma grande missão, adoraríamos, mas a verdade é: olhe-se no espelho, você tem uma grande missão? Se você tiver realmente lucidez, vai dar risada de si mesmo.

Trecho da Palestra proferida por Meihô Genshô Sensei, 10/08/2018, Brusque/SC.