O Nono Elo – Parte 3 | Monge Genshō

O Nono Elo – Parte 3 | Monge Genshō

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Trata-se de uma grande oportunidade para o Zen, porque, se as pessoas tiverem mais educação, serão mais dificilmente enganadas por superstições, ameaças de inferno ou promessas de cadeiras no céu. Isso exigirá mais educação e uma mudança dos paradigmas que estão na cabeça de todos.

Este Elo da Originação Dependente, Upādāna, fala basicamente do congelamento das visões. Temos uma visão do mundo, nos congelamos nela e não conseguimos ver a mudança que aparece. Às vezes, isso pode ser dramático. Por exemplo, na Batalha de Omdurman, no final do século XIX, na África, os seguidores do Mahdī recebiam orações que lhes fechavam o corpo. Assim, acreditavam que não seriam atingidos pelas armas inglesas. Nessa batalha de Omdurman, que foi praticamente a vingança pela tomada de Cartum alguns anos antes, os ingleses perderam menos de vinte homens em toda a batalha, enquanto os seguidores africanos do Mahdī, que atacaram as posições inglesas guarnecidas por metralhadoras, perderam milhares e milhares de homens. Foi uma derrota devastadora. Como comentou um oficial inglês: “Eles tinham Alá, nós tínhamos a Maxim” (nome da metralhadora que o exército inglês possuía).

O que acontecia é que a visão da proteção divina estava congelada na mente de todos os africanos seguidores do Mahdī. Eles achavam que isso era real, tendo congelado sua visão nessa crença. Já na visão dos novos tempos, as metralhadoras mudavam toda a perspectiva.

O que vemos no mundo hoje também é o congelamento de visões antigas. Quando países invadem outros para ganhar território, na realidade, estamos vendo uma mentalidade do século XIX, uma mentalidade imperial que simplesmente não cabe mais no mundo moderno, porque ganhar território não significa ganhar riqueza. Seria muito mais lógico um domínio econômico. Mas não o domínio de um território completamente destruído, bombardeado e sem infraestrutura. Isso, ao contrário, é ganhar despesa; não há vantagem real nisso. Portanto, vemos que as visões do passado continuam vivas nas pessoas e sobrevivem a tempos que não admitem mais aquela visão anterior.

Percebam que hoje, quando, por exemplo, há seca, não há procissões na rua… Antigamente, faziam-se procissões para pedir chuva. Cinquenta anos atrás, fazia-se esse tipo de procissão para pedir chuva no nordeste brasileiro, mas isso não acontece mais, porque a ciência, com a meteorologia, fez aquela visão antiga desaparecer. Uma visão que foi tão completamente superada que se tornou inviável pedir que São Pedro mande água.

Deveríamos estar alertas a todos os tipos de mudanças. É claro que, ao andar na rua, alguém pode dizer “vá com Deus” ou qualquer coisa assim para proteção. Mas você sai na rua e apenas olha para os lados para ver se não vem algum carro e evitar o risco de atropelamento. Porque, na verdade, isso tornou-se apenas uma fórmula; não acreditamos mais. Às vezes, eu ouço alguém da família dizer “ninguém morre antes da sua hora”… O que não é bem verdade, porque, se você não tomar os remédios quando está doente, pode morrer.

Assim sendo, as visões do passado morrem, mas sobrevivem durante algum tempo nas mentes até que sejam completamente suplantadas. Por isso, ainda vemos guerra por território e crenças supersticiosas sobrevivendo. Mas elas vão morrendo e, de repente, não as veremos mais.

[CONTINUA]


Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual em abril de 2024.