O Nono Elo - Parte 2 | Monge Genshō

O Nono Elo - Parte 2 | Monge Genshō

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Hoje nós temos uma discussão que vejo a toda hora na imprensa: é sobre o mundo do trabalho. Dizem os preocupados com o assunto que as máquinas substituirão o trabalho dos homens e que não haverá trabalho. E que se não houver trabalho, haverá uma multidão de desempregados e isso será uma tragédia.

No entanto, não é bem o que a história mostra. E também não é aquilo que os homens sempre procuraram. Voltando para trás, podemos perceber, por exemplo, que há cerca de 300 anos cada possuidor de escravos no Brasil tinha em média cinco escravos. E essas pessoas não trabalhavam, pois só quem trabalhava eram os escravos. Por exemplo, uma típica dona de casa brasileira não pegava um copo de água porque uma mucama iria servi-la.

Charles Darwin, quando passou por aqui, viu a sociedade escravocrata brasileira e também fez observações terríveis sobre o comportamento das pessoas, os possuidores de escravos. Os aristocratas nunca trabalharam e sempre fizeram de tudo para não trabalhar.

Na realidade, a estrutura das igrejas, desde os tempos mais primitivos, se baseia na ideia de que o xamã ou o sacerdote não vai trabalhar e sim ser sustentado pela sociedade porque ele dá a ela benefícios mágicos. E, predominantemente no ocidente, a estrutura das igrejas foi baseada sobre a ideia de vender uma grande ameaça de condenação ao inferno, por exemplo, e dizer que ela tinha os meios de salvar os homens dessa condenação.

E durante séculos a sociedade simplesmente aceitou isso, sustentando os religiosos sem que esses produzissem, sem que esses trabalhassem. Essa foi a estrutura que nós montamos socialmente: aristocratas não trabalham, sacerdotes não trabalham e a sociedade os sustenta por uma espécie de convênio. Ou seja, quem conseguia, não trabalhava.

Transfiram toda a situação para o que acontece hoje e nós vamos perceber que a tendência é que os homens tenham máquinas fazendo praticamente tudo, com robôs trabalhando, e assim dentro de algumas décadas as pessoas não trabalharão. Mas por quê? Porque não foi trabalho que as pessoas demandaram sempre. Esse é o erro: a palavra trabalho, dizer que as pessoas querem trabalho. Não, as pessoas querem renda, querem maneiras de sobreviver. E se for sem trabalhar, estarão felizes.

Se tivermos cada um com alguns robôs fazendo todas as coisas, arrumaremos outras coisas para fazer, como os aristocratas sempre arrumaram, como as artes: música, teatro, diversões… qualquer coisa, mas não pegar numa enxada, o que aliás praticamente hoje já não se faz quase, porque só três por cento da população atualmente é que produzem os alimentos para todo o mundo. E isso ocorreu porque as máquinas tomaram o campo. Agora estamos vendo a inteligência artificial ocupar os trabalhos de serviços e de produção intelectual que antes fazíamos.

A ideia básica então é que o congelamento da visão, o Upādāna, faz com que nós criemos um universo de ideias à nossa frente que parece ser o único possível e todos os outros universos parecem ser descartáveis ou não existentes.

É isso que é o problema dessa discussão agora a respeito da inteligência artificial. É claro que as pessoas confundem a ideia de que trabalho significa renda. Trabalho não significa renda. É necessário que os governos criem uma taxação tal sobre o trabalho executado pelas máquinas para pagar uma renda mínima que faça de todo mundo os novos aristocratas. E ninguém que estiver nessa condição de ter renda e poder optar pelo que deseja fazer e lhe dar prazer vai reclamar, assim como os aristocratas só recuaram da sua posição quando foram obrigados por aqueles que trabalhavam e não queriam mais sustentar aquela parasitagem toda. É isso que aconteceu.

Então, a renda mínima universal é uma obviedade que vai tomar o mundo a partir do pagamento por parte da inteligência artificial incorporada aos robôs, às máquinas etc. É isso que vai suceder com grande probabilidade, o que exigirá uma mudança gigantesca das mentes.

[CONTINUA]


Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual em abril de 2024.