“O Dharma incomparavelmente profundo e de uma sutileza infinita é raramente encontrado, mesmo em milhões de milhões de ciclos universais. Possamos nós agora, ouvi-lo, aprendê-lo e guardá-lo. Ouçamos cuidadosamente as palavras do Tathāgata.”
A palestra de hoje é sobre o Nono Elo, que é o Upādāna, significando o congelamento das nossas visões. E sobre isso podemos dar exemplos mostrando que a humanidade tem essa tendência de uma forma muito forte. Nós examinamos que, por ignorância, pelas nossas percepções, fazemos contato, fazemos escolhas, desenvolvemos uma ânsia por determinadas coisas, e agora, depois que nós vimos todos esses fatos, podemos perceber que as nossas visões se congelam a partir daquelas escolhas que fizemos anteriormente e pelas quais desenvolvemos esta ânsia.
E muitas vezes isso é invisível. Eu lembro de um ministro da Arábia Saudita que, na década de 1970 – quando aconteceram os grandes movimentos em favor do aumento do preço do petróleo, que subiu rapidamente de valor de modo espetacular, mudando as relações de poder no mundo – disse uma frase simples quando se discutia sobre o fato de que o petróleo iria se tornar cada vez mais raro e, portanto, tinha que subir de valor. Ele fez uma observação de que a Idade da Pedra não tinha acabado por falta de pedra.
É bastante interessante porque podemos imaginar os homens do tempo da Idade da Pedra, quando surgem os primeiros metais, a dizer: “Isso aí dá muito trabalho”, referindo-se a fazer ferro ou tirar cobre, que foi o primeiro metal que usamos. Isso exigiria fogo, fornalhas, fundição, um monte de coisas, além de ser uma espécie de segredo guardado pelas pessoas que tinham desenvolvido o conhecimento sobre a maneira de fazê-lo. Houve uma época em que o ferro era uma coisa extremamente preciosa. Afinal de contas, ele acabava com a Idade do Bronze. E as armas feitas de ferro partiam as armas feitas de bronze, permitindo aos hititas, por exemplo, um enorme predomínio. Mas a visão anterior estava congelada. E nós podemos ver essa tendência a todo instante na nossa sociedade. À medida que desenvolvemos uma determinada tecnologia, nos agarramos a ela e temos extrema dificuldade de mudar.
No início do século XX, um artigo famoso no New York Times dizia que essa história de carro era uma moda passageira e que, na verdade, o cavalo permaneceria, defendendo que substituir o cavalo por máquinas era uma coisa muito absurda… que não teria futuro.
Na década de 1950, um diretor da IBM disse que no mundo havia mercado para não mais que 50 computadores. Ele estava pensando em imensos computadores do tipo mainframes. E nessa área da computação podemos observar o congelamento de visões com grande facilidade porque faz parte das nossas vidas e podemos acompanhar como a história se sucedeu. Na década de 1990, um executivo de São Paulo me perguntou: “Mas essa história de internet não é uma moda passageira”?
A cada momento de grande mudança, as empresas que dominavam o mercado não viram o que estava acontecendo. A IBM não viu o computador pessoal. Foram alguns jovens numa garagem, na Califórnia (EUA), que propuseram um computador pessoal. E assim surgiu a Apple. Mas a Apple não viu o surgimento dos browsers (sistema de navegação da internet) e nenhuma das grandes empresas da época acompanhou a tendência para transformar a telefonia em uma coisa completamente diferente.
As empresas sempre correram atrás. As empresas que criaram as grandes inovações foram empresas novas, que estavam entrando no mercado. Foi isso que aconteceu com os browsers, foi isso que aconteceu com a telefonia baseada em IP (endereço de protocolo de internet) e cada um desses lançamentos surgiu à revelia daqueles que estavam dominando o mercado anteriormente, que então tinham que correr atrás. Porque o congelamento da visão os havia mantido na visão anterior.
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Palestra proferida por Genshō Sensei em teishō na Daissen Virtual em abril de 2024.