Vamos Analisar um texto de Toshihiro Izutsu, que é um mestre da Escola Rinzai. (texto)”Se analisarmos a experiência Zen, quer dizer, a realização pessoal do estado de iluminação, em termos de relação entre exterior e interior, nos deparamos com duas realidades teóricas. O interior se converte em exterior ou, a exteriorização do mundo interior e exterior se converte em interior ou, interiorização do mundo exterior. Trazemos o exterior para dentro de nós ou projetamos a nós no mundo exterior. No primeiro caso que se refere a expressão tão corrente, de que o homem se converte no objeto, se realiza rapidamente a experiência do próprio eu, perdendo sua identidade existencial e fundindo-se inteiramente no objeto exterior com o qual se identifica. O ser humano se converte em flor, o homem se converte em bambu. Essa experiência não se fundamenta, no entanto, como uma experiência autênticamente Zen, senão, quando o ser humano chega a perceber em sua própria consciência espiritual que essa flor, ou esse bambu, com os quais se identificou, contem o mundo total do ser.”
(comentário)Por exemplo, nós estamos aqui e agora e temos essas tijoletas da sala e percebermos que nós somos parte desse piso não é muito fácil, que nós somos parte disso, que ele é manifestação da vacuidade e nós também somos manifestação da vacuidade, mas é a verdade dos fenômenos, de que os fenômenos são manifestação na vacuidade. Nos somos em essência, feitos da mesma substância que as tijoletas desta sala. E se olharmos em termos físicos ou químicos, acharemos grandes semelhanças, somos feitos das mesmas substancias químicas, mas é muito mais que isso, pois as substâncias químicas são, elas mesmas, manifestações na vacuidade. E isso é o nosso eu que tanto prezamos, que tanto apreciamos e queremos que seja permanente, em torno do qual, quando estamos sentados, giram as nossas fantasias de vaidades, de orgulho, as nossas mágoas, ambições, todas são operações mentais que geram a existência desse eu, nada sólido, tudo fantasia. E estamos aqui sentados, observando a nossa mente, percebendo nosso corpo, percebendo que realmente é fantasia. Nós temos a experiência de que é uma fantasia nossa. Nesse estado o eu se estende até os últimos limites do universo, quer dizer, já não é um eu com uma identidade independente, já não é um sujeito frente à um mundo objetivo. Então, se alguém consegue identificar todas as coisas em volta como o mundo total do ser e de que ele faz parte disso, o seu eu não é mais uma identidade independente e abarca o universo inteiro. Então não é mais uma pessoinha olhando o universo, mas sim todo o universo, todo o mundo fenomênico e é, em essência, a própria vacuidade. Se usássemos a terminologia de Deus, diríamos que o homem tornou-se a própria divindade ou morreu para si mesmo e assim, morrendo para si mesmo, pode conhecer a Deus.
( Não usamos a palavra deus no zen porque está contaminada da idéia de pessoalidade, de algo separado, por isso “mundo total do ser”)