Praticantes de Florianópolis na cozinha durante o Hanamatsuri de 2011
Vamos agora então ao quinto passo que é o modo de vida correto. O modo de vida correto, no entendimento de Buda, é uma maneira de viver e de sobreviver, que evita o sofrimento.
Naquele tempo Buda recomendou aos monges uma vida absolutamente desligada do mundo,
eu diria a vocês que ele tinha plena razão. Eu mesmo, tendo que trabalhar, agir como
consultor de empresas, gerir o restaurante, sou testemunha de que esse tipo de vida causa perturbações e preocupações, tudo isso tira algo da paz. É muito mais difícil ter paz vivendonum mundo onde existam dívidas, cobranças, processos, onde existe todo o tipo de conturbação. Buda tinha, então, recomendado aos monges e essa tinha sido a pratica durante alguns séculos, que os monges se mantivessem completamente alheios a sociedade. Não comerciassem, não trabalhassem, não guardassem dinheiro e apenas mendigassem sua comida. Eles sobreviviam da sangha. Esse modo de vida ainda existe em monges de algumas escolas do sul da Ásia, onde a mendicância é admitida. No momento em que o budismo entrou na China e em países mais frios, ao norte da Índia e sul da Ásia, a mendicância não era bem vista, não só isso, havia perseguição e os monges tiveram que se ocultar em montanhas e viver em comunidades reservadas, mosteiros.
No momento que se começou a viver em mosteiros eles tiveram que trabalhar, criou-se então uma ética do trabalho, uma cozinha, e essa está profundamente impregnada no Zen, porque o Zen foi para a China pelo século VII depois de Cristo e a maneira de viver passou a ser “dia sem trabalhar, dia sem comer”. Então para os monges não havia feriados, todos os dias tem trabalho, ou coletivo ou para si mesmo. Existe uma história de um mestre já em idade avançada, e os discípulos temerosos de que ele morresse em razão de sua dedicação ao trabalho, esconderam seus instrumentos. Imediatamente o mestre parou de comer. Os discípulos preocupados disseram: “Por favor, o senhor não comeu ontem, está se recusando a comer hoje” e ele respondeu, “Dia sem trabalho, dia sem comida”. Então os discípulos devolveram seus instrumentos de trabalho e ele voltou a comer.
( Trecho de palestra, Monge Genshô, decupada por Ápio San)