Buda havia transmitido a Mahakashyapa uma compreensão superior, um entendimento além das palavras. Diz-se então que o Zen é uma transmissão além dos textos e das palavras, porque as palavras não têm a capacidade de transmitir verdadeiramente uma experiência.
Portanto, o budismo é experiencial: em vez de você explicar algo para uma pessoa, é necessário que ela prove e experimente. Não se trata em absoluto de acreditar nas palavras do mestre, pois elas são meros guias. O que um mestre pode fazer? Ele pode dizer: “olha, na minha experiência as coisas funcionam assim e assim, o caminho é este, você tem que seguir por aqui, haverá curvas e pedras, é melhor você levar um calçado bom para caminhar por causa do terreno, leve um cantil com água, aí quando você chegar no fim dessa trilha tem uma fonte de água pura, límpida e você pode beber”. Mas o mestre não pode caminhar na trilha para você, não pode ver a paisagem por você, não pode sofrer as agruras do caminho por você e não pode beber a água da fonte por você.
Então, no fundo, um mestre não pode dar nada a você além de contar da sua própria experiência. É por isso que as linhagens de transmissão no budismo são sutilmente diferentes uma da outra – elas enfatizam a experiência daquele mestre. Essa nossa linhagem aqui, a linhagem de Saikawa Roshi, é uma linhagem que enfatiza a experiência da iluminação. É isso que é importante para nós. Não são os rituais, não são as roupas, nada assim. O que nós temos que transmitir é o caminho do despertar.
[N.E.: trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]