Palestra Proferida por Monge Genshô
Sesshin de Carnaval: 17 a 20 de fevereiro de 2007
Título: Comentários sobre Teishôs de Taizan Maezume Roshi
Tema: A árvore sem raiz
Decupada da gravação, digitada, editada e revisada por Denkô
Taizan vai falar sobre koan.
Muitas pessoas pensam que a escola Soto Zen não usa koan,isto é um engano. A diferença é que a escola Rinzai põe ênfase nos koans. E a escola Soto põe ênfase no shikantaza, a meditação sentada, e deixa o koan como uma coisa auxiliar. No entanto, os mestres Soto costumam usar koan. Aquela pergunta quem é você? Não é um koan,aquilo é umhua-t”ou (jap. watô). É outra técnica, questões que pressionam. Mesmo os praticantes que estão há anos praticando têm muita dificuldade para responder essa pergunta de forma satisfatória.
Koan significa caso público, caso registrado. É um diálogo entre mestre e discípulo, que foi registrado, sobre o qual você pode pensar e tentar responder. Por exemplo, os discípulos estavam disputando por um gato. Normalmente não existem ou não é para existir animais de estimação nos mosteiros, mas de repente aparece um e é adotado. Então, havia um grupo de monges no mosteiro disputando um gato. O mestre chegou na sala, pegou o gato, levantou-o no ar, tirou a navalha que serve para cortar a barba e disse:digam uma palavra Zen e o gato se salvará. Um monge falou: o gato é meu, o outro: compaixão! não mate o gato! O mestre cortou o gato ao meio. Isto no budismo é absurdo. Mas, ele matou, assumiu o risco de fazer isto em benefício de muitos outros seres porque até hoje estamos falando nisso. À noite chegou um monge que estava viajando. O mestre relatou a história. O monge pegou as sandálias e as colocou sobre a cabeça e saiu, e o mestre disse: se você estivesse aqui teria salvado o gato. O koan é assim: me diga o que você teria dito para salvar o gato. Até hoje eu vi uma pessoa que salvou o gato, metaforicamente. Ele levou um ano tentando,mas conseguiu. É como a resposta quem é você? Se alguém dá uma resposta que ele aprendeu filosoficamente, na hora você vê que esta resposta é uma resposta só da sua cabeça.Traga-me uma resposta das suas entranhas. E esse é um dos problemas do koan porque originalmente aconteciam diálogos entre mestres e discípulos, na época de ouro do Zen, e eram muito fortes estes diálogos, verdadeiras as respostas. Com o tempo isto foi sendo escrito e tornou-se caso público como essa história do gato que eu estou contando. Mas vocês não estavam lá nem estavam disputando o gato. Então não era a sua vivência pessoal. É agora uma referência a um caso passado.
O melhor koan é o koan da vida da pessoa, mas precisa um professor realmente bom para isso. Então de certa forma burocratizou-se, institucionalizou-se o koan e começou-se a ter respostas codificadas e isso foi o enfraquecimento da escola Rinzai porque precisa muito bom professor para lidar com este problema. Tem que brigar com o aluno e precisa um aluno forte também, um aluno que pode ser esbofeteado. Quando Dogen foi para a China, ele tinha sido criado, era monge desde os doze anos de idade, na escola Tendai ou Tientai que é uma escola do Vajrayana japonês. Hoje a grande corrente Vajrayana que nós conhecemos é a Tibetana. Mas existe o Vajrayana japonês como as escolas Tendai e Shingon. Então Dogen quando chegou na China ele viu um Rinzai decadente, modificado, não gostou e foi procurando até encontrar Tendo Nyojo que representava a Escola Caodong de Zen, que é a escola Soto, uma escola que se originou do sexto patriarca (em nossa linhagem) da China. (Comentário de Monge Genshô)
(continua)