O Kenshô permanente

O Kenshô permanente

(continuação)
“Perdido o boi, fica o homem”, é o sétimo passo. Agora a iluminação, o kensho, o zen mesmo, estão esquecidos. Qualquer sensação de santidade ou o maravilhoso estado mental que se experimente começará a ser um peso desde o momento que se comece a pensar nele ou a tomar consciência dele. Aquela experiência do kensho, quando surge, já não é tomada em consciência, pois se torna natural. É como se estivesse o tempo todo vivendo em kensho. Os acontecimentos ocorrem quando querem e a pessoa simplesmente os deixa fluir. Quando as coisas ocorrem, ocorrem. Quando se foram, se foram.
No momento em que uma pessoa se acostuma a ver as coisas de uma maneira fixa, já começa a decadência. Sem morar em nenhuma parte, deixe que trabalhe sua mente. O verso sobre a transmissão do Dharma de Budha Vipasyn, o primeiro dos sete Budhas passados, diz: “Vicio e virtude, pecado e bendição, tudo é vão, mora no nada”. Nós estamos falando aqui sobre um estágio em que a experiência de kensho torna-se praticamente permanente. Não há consciência da existência de uma mente a ser controlada, nem uma mente que vai ou vem. As coisas ocorrem simplesmente fluindo. O homem age de acordo com a necessidade, sem se deixar mobilizar pelos acontecimentos externos. Ele está flutuando por fora dos acontecimentos.
Nesse estágio, segundo os comentários de Sekida, reina o shikantaza. Shikantaza quer dizer “simplesmente sentar-se”. Já não se presta atenção particular à respiração, à postura e às demais coisas. Inclusive deitado em sua cama se pode entrar em samadhi absoluto. O homem muda a atividade habitual da consciência trabalhando, falando, e mesmo sacudido pelo movimento de um ônibus, não perde seu samadhi positivo. Antigamente, ele e o samadhi eram separados, eram dois, às vezes tinha samadhi, às vezes não tinha, era uma coisa que ele possuía ou não. Agora o samadhi e ele são uma coisa só. Antes, alcançava o samadhi com esforço, trabalhava num sistema dual. Fazia o zazen e procurava o samadhi se esforçando para ficar no momento presente e abandonar todas as considerações. Mas agora não é assim. O reino da mente foi submetido ao domínio do homem, por isso perdido está o boi, resta somente o homem.