Os jogos devem ser jogados dentro das suas regras. Se o jogo for errôneo, causar mal, você deve sair do jogo, você não deve pertencer a ele, porque você vai corromper a si mesmo. Do outro lado, você não pode jogar um jogo sem aceitar as suas regras, mas você não está preso a elas, e elas não são a realidade, senão uma realidade construída, mental, toda imaginária, como é o caso do xadrez – as regras são todas imaginadas.
Você imaginou regras e elas se materializam numa determinada ordem e numa determinada maneira de fazer as coisas, em sentimentos que aparecem, mas é só isso. Se você compreender a natureza dos jogos, você não vai se importar com os resultados: ganhar ou perder, tanto faz, não tem importância. Exatamente como Saikawa Roshi estava tentando dizer quando alguém disse a ele: “fulano fez isso errado no ritual”, e ele disse: “errado não, diferente”. Não existe errado ou certo em termos absolutos. A visão dual de certo e errado é muito limitada, é uma visão convencional.
Certa feita tive uma discussão sobre o material que imprimimos. O aluno que estava cuidando da elaboração do material me escreveu: “Buda nasce em Kabira ou Kapilavastu? Kapilavastu é em sânscrito, que em japonês é Kabira. Então qual é o certo?”. “Sei lá! Coloque no Sutra para gente recitar um dos dois” – disse eu. Qualquer um dos dois estaria certo, é claro. Em japonês é Kabira, e acabou ficando em japonês, mas só para estabelecer um padrão. Mas é só isso, a decisão é essa: para estabelecer e manter o padrão.
[Trecho de palestra proferida por Genshô Sensei]