O Jogo da Vida

O Jogo da Vida

Aos olhos de Buda muitas coisas que nós enxergamos na nossa vida são vistas de forma completamente diversa. Nós vamos assistir a um jogo e torcemos para um ganhador, valorizamos o que ganha e desprezamos o que perde. Mas, aos olhos de Buda, ganhadores e perdedores são absolutamente iguais: eles participam de um jogo. O jogo em si, esses ganhos e perdas, não são mais que fantasias de regras que nós criamos, uma espécie de redoma de realidade que envolve aquelas regras que nós assumimos e acreditamos, e daí elas se tornam reais. 

Você pega um tabuleiro de xadrez, você tem 64 casas, oito de cada lado, dezesseis peças. Cada peça tem um movimento diferente: as torres são diferentes dos bispos, os bispos diferentes dos cavalos, os bispos até andam no mesmo tabuleiro, mas de forma completamente diferente – alguns andam só nas casas pretas e outros só nas casas brancas. Então, eles jamais se encontram, andam em espaços diferentes, embora estejam no mesmo lugar. Nós olhamos o tabuleiro e assumimos essas regras, e assim se desenvolve um jogo. E alguns ficam tristes por perder e outros alegres por ganhar. 

Enormes discussões foram feitas, muitos livros foram escritos nos últimos séculos sobre o jogo de xadrez, que é considerado um dos mais antigos. Há um tratado espanhol de 500 anos atrás, e já é considerado um tratado do xadrez moderno. Mas o que é interessante é nós percebermos que é uma bolha de realidade. Foi criada uma bolha por causa das regras que foram assumidas pelos jogadores em cima de um tabuleiro que é todo feito de convenções. A regra dos bispos, por exemplo, é uma convenção. Uma criança que pegue um tabuleiro e não saiba as regras vai brincar com as peças completamente fora delas. 

O que nos interessa nessa analogia é que a vida é construída assim. Nós assumimos as regras do nosso sistema educacional, dos diplomas, das formaturas, chamamos as pessoas de doutor, ou de engenheiro, ou de advogado, de acordo com um determinado número de regras que ele cumpriu. Quando trabalhamos nas empresas, seguimos determinadas regras que foram estabelecidas, por exemplo, por legisladores no Congresso Nacional, e pagamos impostos seguindo essas regras, e ficamos apavorados se não conseguimos pagar uma conta, porque podemos cair na regra do SPC, e ele vai nos listar como maus pagadores, e daí outras pessoas, por causa daquela regra, não te darão crédito, e assim por diante. 

Tudo foi criado com a mesma realidade da regra do tabuleiro de xadrez. O nível de realidade é o mesmo, você assumiu convenções. A pergunta é: isto é realidade ou não? A convenção e as regras se tornaram a nova realidade que se sobrepõe à verdadeira realidade?

[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]