Aluno: Sensei, parece-me que muito da cultura da diferença vem no sentido de ressaltar as diferenças – desde os meninos com relação às cores, aos brinquedos, até nas relações de trabalho, onde eu sou diferente porque eu faço o que meu colega não faz. Parece que tudo é construído no sentido de tipificar as diferenças…
Monge Genshô: veja que isso se opõe à noção de unidade. Você se senta em zazene a instrução é: “eu e todas as coisas somos uma coisa só”. Contudo, não sou só eu e os outros homens, não é “amai o próximo como a si mesmo”, mas sim todos os seres: as pedras, as árvores, o planeta e o que você imaginar. Não há nada que não seja parte de você.
Isso está dentro do ensinamento budista, porque todas as coisas são interconectadas e interdependentes. Você não vive separado de nenhuma delas, você não vive sem o ar, você não vive sem as plantas, não vive sem água, não vive sem os animais. É um grande erro pensar que está separado de tudo.
A visão anterior era uma visão antropomórfica, de um mundo em que o homem não tinha poderes para alterar. Então a mata era inimiga, os leões e as cobras eram inimigos e os outros homens da outra tribo eram inimigos, pois todos disputavam o mesmo espaço. Já que era assim, a visão ficou individualista, e a característica na nossa arte ocidental era ser antropomórfica, voltada para o homem, colocando-o em primeiro lugar. Qual é o quadro mais famoso do ocidente? A Monalisa. E o que é este quadro? É uma mulher, mas tem uma paisagem atrás. Veja: a paisagem é só o fundo. Já os quadros artísticos do oriente têm o homem pequeno, inserido em uma grande paisagem.
Enquanto a unidade e o compartilhamento são deixados de lado e cedem espaço à diferença e à separação entre o homem e o mundo e entre o homem e seus semelhantes, a tradição pictórica do extremo oriente coloca o homem como parte da natureza, e não como o dominador dela. A natureza não é apenas um detalhe, algo que ele dominou, algo que ele domesticou. Vejo as diferenças dos jardins ingleses ou franceses, em que tudo é ordenado, tudo é feito de uma forma humana: o homem interferiu completamente. Quando vemos um jardim tipicamente zen, ele não é assim, mas tenta parecer que foi espontâneo. Ele é uma miniatura da natureza, e a interferência humana faz força para não parecer que é interferência – até o musgo é colocado embaixo das pedras e nas árvores.