Os Sutras do Tripitaka são constituídos de “3 cestos”. A tradução é essa, a palavra vem do sânscrito e tem a mesma raiz da nossa língua, por isso são tão parecidas. Então “tri” quer dizer “três” e “tripitaka” quer dizer “3 cestos”, referindo-se a três cestos de escrituras.
O primeiro conjunto são os discursos de Buda, o segundo são regras para os monges e o terceiro são comentários de mestres sobre os sutras.
Existe uma escola que conserva essa ideia de que só existe o cânone, então só se referem a ele e não consideram nenhum outro texto. É como se tudo o que precisassem estivesse ali.
Qual é a tendência mais natural de uma escola assim? É que o texto torne-se mais importante do que todo o resto. Deste modo, os textos são vistos como o repositório da sabedoria, e os praticantes voltam-se a todo instante para eles a fim de tentar saber qual é a verdade. Não é diferente do que aconteceu com o cristianismo depois do congelamento da bíblia, que significa “os livros”. Tendo os livros todos reunidos no Concílio de Niceia, também congelaram as informações e não entrou mais nada. Havia mais de 40 evangelhos, mas apenas 4 foram escolhidos e os outros foram descartados como apócrifos. Evangelho de Tomé, por exemplo, evangelhos vários com histórias que foram consideradas exageradas acabaram ficando de fora. Os 4 evangelhos selecionados compõem o que nós conhecemos hoje como a bíblia.
Qual é a atitude das pessoas diante disso? As pessoas abrem a bíblia e consideram aquilo a palavra de Deus, porque está escrita e aquilo é o certo, o que acaba criando conflitos, como aconteceu quando declararam que o Sol era o centro do sistema solar e a Terra girava em volta dele. Acontece que no livro de Josué está escrito que Josué pediu a Deus que parasse o Sol para que ele pudesse ganhar uma batalha, então surge o argumento de que, se o sol parou, então é ele quem gira em torno da Terra. Caso contrário, ele teria pedido para a divindade parar a Terra. Hoje nós sabemos que isso causaria uma catástrofe gigantesca com enormes proporções.
Estou contando isso para que vejamos que o mesmo tipo de tendência fundamentalista também acontece no budismo. Certa vez, conversei com um professor budista de uma escola que considera muito os textos, e ele disse: “a sede da consciência é o coração”, e eu perguntei o porquê de ele estar dizendo aquilo, do que ele respondeu que o motivo era porque eram palavras de Buda. Todavia, são somente palavras de um sutra, ou seja, é um conhecimento daquele tempo. Manter todas as palavras d’outrora como verdades absolutas é uma postura fundamentalista.
[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]