“Muitos anos atrás, na Coreia, um monge estava num monastério e se sentia insatisfeito com os ensinamentos de seu mestre. Sempre achava que o monastério não era suficiente, que ele não poderia se iluminar com aquele treinamento, que os ensinamentos não eram suficientemente profundos e assim falou de sua inquietação para o mestre e pediu licença para viajar para a China, de onde havia vindo o zen e onde encontraria algum grande mestre digno das suas ambições.
O mestre concedeu licença a ele, disse: ‘vá, peregrine, viaje’. Colocando suas roupas de viagem o monge iniciou sua peregrinação caminhando muitos dias pelas montanhas em direção à China e numa noite muito cansado, com fome e sedento alojou-se embaixo de uma árvore para passar a noite e choveu.
Ele acordou com a chuva no meio da floresta e sentindo uma enorme sede, meio dormindo, estendeu a mão para o lado e subitamente topou com uma tigela cheia de água. Pensando na pura água da chuva e na sua sede, tomou a tigela e bebeu. A água era doce e deliciosa. Confortado conseguiu aninhar-se melhor e dormiu. Quando acordou pela manhã, olhou para o lado e a tigela era um crânio humano e dentro dela havia um resto de água em que flutuavam vermes apodrecidos. Horrorizado ele vomitou.
Neste momento subitamente entendeu o quanto as suas ilusões e crenças mudavam as suas percepções. O quanto acreditando que tomava água pura bebia, na realidade, a própria podridão. A tigela simbolizava sua mente e com aquele despertar súbito ele arrumou-se e retornou para casa, para seu antigo mosteiro.
As coisas mais simples têm imensas lições. Aqueles que creem que a iluminação está fora de si e será procurada em algum lugar distante, em algum ensinamento transcendental, estão profundamente enganados. O Buddha a ser despertado está dentro de nós. Todos nós temos Tathagatagarbha. O embrião de um Buddha dentro de nós está oculto sob camadas de ignorância, crenças e ambições. Aquilo que nos parece, na nossa obscuridade, delicioso e um grande presente, pode se revelar ao amanhecer completamente enganoso e até mesmo repugnante.
O mais belo presente para o homem com sede é uma tigela de pura água à luz do dia.”
Teishô Matinal proferido por Meihô Genshô Sensei, julho a agosto, 2020.