O Caminho – Parte 3 | Monge Kōmyō

O Caminho – Parte 3 | Monge Kōmyō

[CONTINUAÇÃO]

A nossa prática aqui não é um exercício, não é um curso de autoajuda. Nossa prática é uma tradição milenar, que tem como objetivo compreender que obter o equilíbrio e a paz precisa passar por um grande despojamento. Uma grande simplicidade, muita paciência, auto organização e determinação. Sem isso, a prática Zen vai ser uma coisa chata e você não vai conseguir o que você imagina. Esse é o lado interessante do Zen. Quando nós não conseguimos desenvolver em nós mesmos a sensibilidade para compreender o valor da prática, o Zen sempre vai ser muito chato. Virado de frente para a parede, pensamentos, pensamentos, pensamentos. Distrações, distrações, distrações. O que que eu estou fazendo aqui? Eu podia estar lá, na casa de fulano. Batendo papo, bebendo uma cerveja, me divertindo, assistindo um filme. O que que eu tô fazendo aqui? E essa é uma grande pergunta Zen. O que é que vocês estão fazendo aqui? Não sou eu quem vou responder. Vocês precisam responder isso por vocês mesmos.
O caminho Zen é um caminho de autodescoberta. É um caminho que nós fazemos. E é reconstruído a cada passo. E quando a pessoa não sabe, não dá valor, ou não se interessa, não vê valor nesse caminho, o caminho desaparece por baixo de seus pés. Não há mais caminho Zen. Compreendam, por favor. O equilíbrio, a felicidade e o bem estar na vida depende de uma grande compreensão de nossa verdadeira natureza. Além de expectativas, além das idiossincrasias do nosso Eu. Isso exige tempo, exige experiência, descobertas.
A âncora da nossa prática é a respiração. Respirar não só é fundamental, mas é maravilhosamente útil para nos colocar centrados. E no entanto é uma coisa tão comum, que nós nem percebemos quando respiramos. Aos poucos, isso precisa mudar. Estar atento à respiração é fundamental para conseguir perceber como o presente, esse fluxo de momentos, é valioso. E não ficar perdido no passado, ou projetando: Ah, o que eu vou fazer depois dessa prática? Esse momento, aqui e agora, talvez seja difícil de acreditar, ele é maravilhoso. Não por mim, nem por nada do que eu estou falando. Mas porque vocês estão vivos apenas nesse momento. Esse é o único momento onde vocês existem, e esse momento está passando e a gente não pode pegar nele. E é por isso que viver nesse fluxo é fundamental.
Não há vida no passado, apenas memórias e experiências. Não há vida no futuro, apenas planejamento, organização. A vida está passando agora. E é por isso que esse momento é maravilhoso. Esse momento é o caminho. Quando nós aprendemos a nos concentrar nele, o caminho surge. Quando nós nos distraímos, o caminho desaparece. Assim é como no Zen. Assim também é como o Buddha ensina. E é isso o que nós fazemos aqui, ensinar as pessoas aos poucos a enxergar o caminho debaixo de seus pés.


Teishō proferido por Kōmyō Sensei no dia 4 de março de 2023 na sangha do Rio de Janeiro.