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Tomemos o próprio Buddha, o nome do indivíduo que se tornou Buddha era Siddhārtha Gautama. Quando ele atingiu o esclarecimento pleno, ele jamais se chamou novamente de Siddhārtha. Ele sequer se chamava de Buddha, porque Buddha é apenas um título que se dá a ele porque ele atingiu o esclarecimento. E esse é o significado do termo sânscrito Buddha, é “aquele que atinge o esclarecimento”, “o esclarecido”, é o que significa o Buddha. O Buddha frequentemente se chamava a si mesmo, a gente pode dizer assim, de Tathāgata. Tathāgata é um termo muito difícil de traduzir do sânscrito. O máximo que nós podemos chegar é mais ou menos “aquele que assim é”. O Buddha se chamava de Tathāgata porque Tathāgata não é um nome. Ao dizer Tathāgata, ele se referenciava a algo que não era uma pessoa. Foi a maneira do Buddha, não só de trabalhar a experiência que ele teve, mas mostrar e ensinar aos seus monges que o Eu foi retirado da equação, e colocado em seu devido lugar.
A nossa prática aqui não tem a pretensão de chegar a tal ponto. Nós estamos praticando o básico do básico do básico. E o básico do básico é compreender que todas as experiências que são saudáveis, bem-estar, paz interior, capacidade de viver essa vida cheia de obstáculos com equilíbrio, tudo isso depende do quanto, ao longo do tempo de prática, vocês vão ser capazes de compreender o sentido de não se deixar levar por expectativas. Porque não é nem experimentar a superação das expectativas, é compreender o que significa isso, e a compreensão na prática Zen depende de experiência. O Zen não é uma tradição de falar.
O Teishō, a palestra, ela só ocorre para passar às pessoas uma sabedoria, uma experiência, uma orientação. Não há livros, não há teishō, não há sequer um sutra de Buddha, que vão substituir a experiência. Existe um ensinamento do Buddha, chamado Dharma, e esse é transmitido. Mas o Dharma, ele não é a experiência. Cada um de vocês tem uma história, tem uma compreensão, e está aqui, inicialmente, por motivos distintos. Aqueles de vocês, que decidirem, por livre vontade, continuar praticando, aos poucos vocês vão perceber que os seus motivos originais, eles se diluem. Eles se perdem, em interesse, e na experiência da prática. Se isso não acontecer, se você não vê nessa prática nada que você consiga achar interessante, e isso é a maravilha da prática, você está livre para buscar outros caminhos. E são muitos os caminhos que existem, cada um adaptado à natureza de uma pessoa.
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Teishō proferido por Kōmyō Sensei no dia 4 de março de 2023 na sangha do Rio de Janeiro.