A segunda parte da Sabedoria seria a Intenção ou Pensamento Correto, que quer dizer atingir um estado de consciência onde não há obstruções ao processo de pensamento. O processo de pensar conduz à Fala e à Ação, e é essencial que uma pessoa tenha um domínio das condições de seu pensamento.
Por isso, a prática central do Zen é o Zazen. Você se senta em Zazen porque lá não tem terapeuta, não tem psiquiatra, não tem amigos a quem você possa enganar. Você está de frente para a parede e você vê sua mente funcionando, e esse é você de verdade: não é a figura ideal que você quer mostrar para os outros; não é a mente que você gostaria de mostrar para você mesmo. Aquele é você. Se a sua mente não para e é turbulenta é porque você é assim. Se você pensa sem parar em prazeres é porque você está agarrado aos prazeres. Se você pensa sem parar em medos é porque você é uma pessoa medrosa. Se você fica sonhando com futuros maravilhosos é porque você é um iludido, sonhador, sem um pé na realidade e quer fantasiar coisas que provavelmente não se realizarão. Então você vê a verdade da sua mente, a verdade do seu pensamento.
Assim, ao observar a sua mente, ao perceber como ela é, você tem a oportunidade de construir uma nova maneira de ver as coisas, de perceber o mundo. Mas isso não é feito através de um processo discursivo ou raciocinado, senão através de uma limpeza extensa. Você se senta em Zazen para formatar sua mente, para esquecer-se dos passados que foram construídos e das suas expectativas que você tanto ama a respeito do futuro. Você se senta e volta para a realidade tal como ela é. E a única realidade verdadeira é este momento presente, as coisas tais como são agora. A única realidade é o momento presente.
Através desse processo de limpeza radical você tem a chance de construir uma nova mente e uma nova maneira de perceber as coisas. Não é raciocinando nem elaborando nem reestruturando seu ego sob uma forma ainda mais elaborada, mais construída do que a anterior. Então, como é um processo de certa maneira radical, ele exige que você tenha um certo grau de equilíbrio para poder sentar e enfrentar a si mesmo. Não é um processo recomendado para quem estiver perturbado, deprimido, ou com alucinações. É um processo para ser realizado por uma pessoa que está saudável. Ela é levada a uma crise que é causada pelo próprio processo meditativo. Então, através de uma reconstrução das nossas percepções e das nossas concepções nós podemos construir uma mente nova, que não é uma mente que um guru vai dar para você. Na realidade, essa mente nova surge através de uma procura da percepção da sua verdadeira natureza além desta natureza que nasce e morre, além desse “eu” de agora. Torna-se perceptível que este ser que nasceu, que está vivendo e que vai morrer não é a profunda realidade. Você está além disso. Então você precisa enxergar sua verdadeira natureza. E esse processo chama-se “alcançar o kenshô”, que é o fim do caminho óctuplo.
[N.E.: transcrição de trecho de palestra realizada por Meihô Genshô Oshô]