A Fala Correta trata-se de uma fala impregnada de compaixão, sabedoria e bondade. Na Fala Correta não existe espaço para enganar ou para dizer a verdade em horas impróprias. Não existe uma liberdade na Fala Correta para você usar a sua boca para se focar em, ou produzir, as energias que trazem tudo que é baixo ou mau pra perto de você. O praticante budista, na verdade, tem que ter uma fala límpida em que procura não ofender, procura ajudar sem insultar, sem usar palavras de baixo calão. Evitar todas as referências a coisas baixas. Procurar ouvir e se aproximar de pessoas que têm falas elevadas. Ler e assistir programas que conduzem a uma elevação da consciência, e não ao rebaixamento dela. Não se comprazer com o mal, com o sofrimento de qualquer ser.
A Fala correta é, portanto, uma prática bastante difícil no mundo de hoje, que significa falar e escrever diferentemente de todos os outros, da maioria das pessoas, procurando produzir o bem a todo momento. Não significa não dizer coisas exatas ou eventualmente duras quando é necessário corrigir alguém, um filho ou mesmo num diálogo com um amigo, mas fazer isso ainda com a intenção de realmente ajudar e não de ganhar uma discussão ou coisa semelhante.
Falar corretamente ainda é não cair no defeito tão constante de querer impor sua opinião aos outros, como se fosse sempre o certo, perfeito, correto, mas ser capaz de ouvir e aprender constantemente. Então Buda fala em ter uma língua de mel que procura dizer coisas que produzem harmonia. Na própria disciplina da sangha, nos encontros, a instrução é “a harmonia está em primeiro lugar”. Se alguém disser uma coisa com a qual você não concorda, você deve se calar e esperar porque as pessoas só aceitam correção ou orientação quando ela é não dada individualmente por outra pessoa que não tem autoridade para isso. Elas só aceitam bem aquilo que não as machuca.
Deve haver muito cuidado no falar. A defesa da opinião própria é uma coisa delicada. Em sânscrito existe uma palavra pra isso: ditti – é o defeito de querer impor sua opinião. Um assunto candente no Brasil de hoje, talvez no mundo hodierno, é que as pessoas têm opiniões radicais de um lado e de outro, e aqueles que não compartilhem de sua opinião são vistos com desprezo, às vezes ódio. Então esse radicalismo produz coisas muito ruins, e a prática budista é avessa a esse tipo de comportamento.
(continua)
[N.E.: transcrição de trecho de palestra realizada pelo Monge Genshô Oshô, em novembro de 2016]