Pergunta: Qual é o papel do zen budismo com relação às questões políticas? Como proceder conforme o Dharma?
Monge Genshō: Nós temos seguido a seguinte orientação na Daissen: creio que se nós nos perdemos em discussões e posicionamentos políticos, ou se o professor se declara politicamente, isso fará com que alguns alunos se afastem da comunidade, porque nem todas as pessoas têm as mesmas posições ou idéias. E sendo o Dharma um ensinamento ligado à ideia de nos afastar do sofrimento e nos aproximarmos da lucidez e clareza, cremos que com o tempo de prática cada pessoa atingirá um nível de lucidez suficiente para tomar boas posições políticas. Assim, na Daissen jamais vamos adotar uma posição partidária, ou de apoio determinado a uma pessoa em particular. No máximo fazemos declarações sobre assuntos extremamente evidentes, quando isso for necessário e, ainda assim, com grande parcimônia.
Nesse meio tempo cada praticante tem a orientação de procurar o posicionamento político que mais lhe parece se encaixar devidamente com os ensinamentos do Dharma e com a sua formação e posição atual. Dentro da sangha o praticante não deve debater ou discutir esse tipo de assunto, mas como cidadãos, lá fora, no mundo, pode tomar a posição que lhe aprouver, desde que isso lhe pareça a que mais diminui os sofrimentos e injustiças no mundo. Nós não opinaremos se a posição é correta ou incorreta, porque essa não é a função da comunidade budista.
Nós não somos filiados a partidos, ou temos enquanto comunidade a intenção de apoiar programas partidários. Eu sei que isso é verdadeiramente um fio de navalha, mas temos conseguido nos equilibrar nessa posição de manter a sangha, tanto quanto possível, afastada de debates e de dissensões internas. Mas, tornando claro que, cada pessoa em si é um cidadão político e que deve sim ter seus posicionamentos, votar e tentar influir, protestar junto aos seus representantes quanto aquilo que acha correto. Mas enquanto comunidade não queremos nos envolver em debates que possam causar cisão ou o afastamento de pessoas dentro do estudo do Dharma.
Ficando bem claro que isso não implica que o praticante não deve ter posições, porque ele deve sim. Como cidadão ele deve ter seus posicionamentos, mas como praticante na comunidade ele não cria esses debates. E os monges estão instruídos a não aparecer com seus mantos, ou com os seus ornamentos monásticos para apoiar posicionamentos políticos, devem permanecer colocando a harmonia em primeiro lugar na sangha. A harmonia na sangha é mais importante do que estar certo. Resguardando o fato de que eles são sim pessoas, cidadãos políticos, e têm suas próprias opiniões e devem exercê-las em seus âmbitos privados, mas não dentro da comunidade.
Resposta proferida por Meihô Genshô Sensei, Daissen-Virtual, outubro de 2021.