O budismo não é a religião do acreditar. É a religião de despertar.

O budismo não é a religião do acreditar. É a religião de despertar.

Pergunta – O budismo acredita que possa existir algum tipo de entidade, como essa do mal?
Monge Genshô – O budismo não é a religião do acreditar. É a religião de despertar. Você tem evidências da existência dessa entidade?
Pergunta – Sim, dessa não, mas tive experiências de contato com entidades.
Monge Genshô –  Você teve, mas essa experiência é intransmissível, portanto, para os outros tanto faz, é irrelevante para o despertar. Se você não mostra evidências da existência ou não de entidades, isso não tem a menor importância. Mas mesmo que você prove que existem essas entidades, esse fato continua irrelevante para a prática budista.
O mesmo pode ser dito a respeito de deuses, eles existem ou não? Não existe nenhuma evidência, nenhuma forma de verificação. Se você acredita está bem e se não acredita também está tudo bem. Não faz diferença para o praticante do Zen. As vezes as pessoas estão cheias de sabedoria e vem à Sangha com suas convicções tentando convencer as outras pessoas. Isso mostra o quanto ela tem dúvidas de seus conhecimentos, o quanto lhes falta de certeza. Por que tenta convencer os outros? Para que mais pessoas pensem como você? Se você tem certeza e sua experiência for válida, não será preciso convencer ninguém de nada. A forma como as pessoas chegam à Sangha se assemelha a história do aluno que pede explicações para o mestre, mas não para de falar, então o mestre o convida para um chá e começa a encher sua xícara até transbordar. Ao ver que o mestre não vai parar o aluno diz, “Mestre, já está cheia, não cabe mais nada”. “Igual a sua mente, você sabe muito, não cabe mais conhecimento nela”. Não se pode colocar nada em uma mente cheia, é necessário se esvaziar primeiro. Você deve sentar para meditar e assumir sua ignorância, esse é o grande sábio.
 O Zen é muito simples, rico, mas simples. Como na historia do mestre que caminhando com seu aluno lhe pergunta; “Ouves o riacho?”, “Sim.”, responde o aluno. “Então não tenho mais nada pra te ensinar”, diz o mestre.  Quem faz retiro na Pousada Passarim sabe o que quanto é difícil escutar o riacho que passa ali perto.
Pergunta – Não sei se é a isso que o senhor se refere, mas as vezes na vida ficamos preocupados com verdades transcendentais e deixamos de lado o aqui e o agora, como na história de Budha em que há uma pessoa ferida com uma flecha e todos ficam se perguntando quem atirou a flecha, de onde veio, onde ele estava etc. e se esquecem de ajudar o ferido.
Monge Genshô – Sim, é verdade.
Pergunta – Ainda sobre a existência ou não de espíritos ou entidades. Há uma historia de Chico Xavier em que uma pessoa acusada de assassinato é absolvida porque Chico Xavier psicografou uma carta do assassinado dizendo que o réu não era culpado.
Monge Genshô – Sim, o que aconteceu foi que os jurados aceitaram uma carta escrita por Chico Xavier, onde o suposto assassinado dizia que aquela pessoa não era culpada pela sua morte. Mas você sabe se a carta era ou não verdadeira? O que sabemos é que os jurados, baseados em sua fé, aceitaram aquela carta e a consideraram uma evidência. É a evidência de que? Da fé dos jurados em Chico Xavier.