Eu gostaria de chamar a atenção ao fato de, pelo budismo basear-se nessa ideia de carma, nas ideias de mérito e demérito, de causa e efeito, ele descarta a existência dos deuses e foca unicamente na lei natural.
O budismo é, então, dentro das ideologias chamadas de religião, o grande sobrevivente detentor do conceito de lei natural. No entanto, como aconteceu com todas as outras religiões, à medida que ele (o budismo) passava de um país para outro, ele sincretizava-se com o politeísmo ou com as ideias locais. Isso aconteceu no Tibet, por exemplo, com a religião Bon Xamânica; isso aconteceu no budismo japonês através da transformação de divindades locais em bodhisatvas que acabam sendo respeitados e reverenciados a tal ponto que as pessoas chegam até a fazer pedidos para tais divindades, como no cristianismo, que se faz pedidos para os santos, que são deuses capazes de interferir e tem inclinações.
Apesar desse sincretismo, o budismo é uma ideologia baseada na lei natural, e a questão é se você aceita essa lei – causa e efeito, carma, o funcionamento do carma -, porque não existe, na criação do budismo, nada que endosse os deuses bodhisatvas, buda da medicina, bodhisatva da compaixão, etc. Por isso as repostas sem sentido dos mestres Zen a respeito, por exemplo, do bodhisatva da compaixão, Kanzeon: “Kanzeon existe?” – Pergunta um monge para um mestre Zen. E o mestre responde: “Kanzeon sabe que ela não existe”.