Ontem, eu fui interrogado sobre a diferença entre apego e amor. O conceito que os separa é que o apego está concentrado no eu, no possuir, controlar, ser proprietário de tudo, das coisas, das pessoas, das circunstâncias. Então o apego não têm dentro de si o desejo da felicidade dos outros, daquilo fora de nós. O que o apego quer é a propriedade, o controle. O apego é possuidor. Já o amor não.
O amor tem dentro de si o desejo do benefício para os outros, da felicidade dos outros. Ele se alegra, se compraz em ver os outros felizes, não quer nada para si. A marca do amor é essa generosidade.
O apego quer reter, o apego sente ciúme, quer possuir, manter, ter para si, engaiolar, ele não pensa no que o outro deseja, não pensa no que os outros seres ambicionam. O apego põe um pássaro em uma gaiola. O amor prepara um lugar para eles construírem ninhos e para serem livres, o amor se compraz em vê-los passar livres pelo céu.
Na referência de Khalil Gibran, nós somos como arcos que projetam as flechas da vida de nossos filhos. Não queremos guardar essas flechas numa aljava. O amor sacrifica a si mesmo em prol do bem alheio.
Compreendendo a raiz profunda do apego, que é o eu, compreenderemos que, à medida que nos desfazemos do apego, da nossa fantasia de um eu, poderemos ser generosos e livres. Sendo o “eu” apenas uma fantasia que vestimos para transitar pelo mundo, necessária e útil, não devemos transformá-la em recipiente, em gaiola para reter, conservar, manter, controlar tudo o que nos cerca. As mãos abertas podem participar de um mundo e manter muito mais coisas próximas do que as mãos fechadas, que têm pouca capacidade. As mãos abertas são o amor, as mãos fechadas, cerradas em punhos, são uma boa analogia para o apego. Conseguem manter muito pouco e, além disso, são a verdadeira imagem da agressão.
Teishô Matinal proferido por Meihô Genshô Sensei, maio de 2021.