O Absoluto | Monge Genshô

O Absoluto | Monge Genshô

Nos últimos 2.500 anos discutiu-se muito sobre o absoluto e o relativo. Muitos filósofos debruçaram-se sobre a questão do absoluto descrevendo nossa capacidade de chegar a compreendê-lo como inserir um polígono dentro de uma circunferência. Por mais que multipliquemos os lados do polígono podemos nos aproximar da circunferência, mas jamais seremos idênticos a ela.

O absoluto permaneceu como uma ideia de tudo aquilo que não fosse contingente, que não dependesse de nada para existir e essa ideia confundiu-se com a de uma divindade. 

Para o budismo a ideia de absoluto e relativo são diferentes destas apresentadas. Propõe-se a identidade entre relativo e absoluto e não a sua distinção. A ideia de absoluto foi sempre colocada por todos esses filósofos como alguma coisa fora de nós. O budismo tem uma outra visão: nós e o absoluto somos uma coisa só.

Todas as coisas contingentes que dependem umas das outras para existir, através da doutrina da originação dependente, ou seja, eu e o outro somos uma coisa só e o fato de nos vermos separados é a nossa ilusão mais fundamental e a mais difícil de dissipar.

O fenômeno de nossa existência nos faz distanciarmo-nos do absoluto de todas as coisas porque nos dá a consciência de uma unidade separada através de nossos sentidos. É como se fôssemos terminais do universo cheios de sensores que nos fazem pensar que somos separados do próprio universo e que somos independentes. Mas somos parte do universo e surgimos e desaparecemos com ele. Surgimos como terminais sensíveis com autoconsciência. 

A soma de todos os relativos é o próprio absoluto para o budismo e o absoluto se manifesta em todas as coisas relativas. Esse absoluto que chamamos de vazio, vazio de identidades separadas, é todas as formas. Então o vazio é forma e a forma é o vazio. Todas as coisas relativas são o absoluto e o absoluto se manifesta através de todas as coisas relativas.

Então a concepção budista é abandonar a ideia de um absoluto separado de nós, que nós investigamos e não conseguimos compreender. E que, sim, é possível a nós vermos a nossa verdadeira natureza: nossa verdadeira natureza é o absoluto. Ele não está sujeito a tempo, nem a  nascimento e morte. Se o compreendermos nos libertaremos de todo ir e vir.

Praticamos zazen para acordarmos do nosso sonho de separação, de nossa noção de relatividade e enfim mergulharmos no absoluto. Assim, ao mesmo tempo, podemos ser terminais sensíveis e sabermos o que somos realmente no fundo e ao que realmente pertencemos. Sem as distinções enganosas de sermos separados e não enxergarmos ao que realmente pertencemos e o que realmente somos.

Teishô Matinal proferido por Meihô Genshô Sensei, abril de 2021.